Foi um livro que pude ler sem pressa e até reler antes do fim, só para saborear mais a sua prosa envolvente e a narrativa vigorosa. Confesso que mergulhei fundo no labirinto de muros e nas terras gélidas da Rússia contemporânea enquanto saboreava este último romance do escritor e jornalista Bernardo Carvalho, obra do polêmico projeto Amores Expressos e ainda melhor (na minha modestíssima opinião) do que os já bons Nove noites, Mongolia e O sol se põe em São Paulo.
O filho da mãe é daqueles livros com começo, meio e fim (acho que entendem o que quero dizer). Ele se fecha. A história de amor e dedicação de mães que sobrevivem para salvar a pele dos filhos da guerra entre Rússia e Chechênia comove porque serve com o pano de fundo para temas muito mais gelados do que São Petersburgo. Das páginas de O filho da mãe emerge a força do preconceito, do ódio, da homofobia e do desamparo.
Em meio a tantos espinhos, o livro provoca uma experiência melancólica e triste no leitor: o romance bate na tecla das coisas que perdemos. Mais: do que já está perdido. Impossível enfrentá-lo sem que nossa mente não se acomode no terreno mais fértil para pensar em como e até quando conviver com o que se perde.
Agradeço a Bernardo Carvalho por me fazer experimentar no drama de Ruslan e de seus personagens parceiros uma possível beleza e urgência de vida quando percebemos que nada é mais certo neste mundo do que a chegada, dia que for, do que sempre esteve perdido. Tal qual está dito em Amores Perros, na filmagem de Iñarritu, “somos o que perdemos”.
Responde a verdade: você esperava um grande trabalho do Otto? Preciso dizer, o pernambucano me fisgou com Certa manhã acordei de sonhos intranquilos. Aos 49 do segundo tempo, na metade de novembro, resolvi baixar o disco e não acreditei no que ouvia. O sujeito levou um tempão para gravar de novo e fez um baita disco, não dá para negar. Para a turma do amendoim que repetia "ele não tem mais nada de relevante para oferecer", a resposta veio literalmente em bom som. Está guardada aí, em 10 músicas de primeiríssima categoria para destilar mágoas. Mais um daqueles discos originais e, o melhor, sem cheiro nem cor de ET.
Para mim, o melhor álbum do ano é do Otto. '6 minutos' bateu de jeito, 'Filha' doeu que só, 'Naquela mesa' ganhou versão bamba e 'Agora sim' encheu o meu coração. Obrigado, Otto. Que muitos e muitos shows possam coroar este belo trabalho. Coisa finíssima, disco de verdade.
Para mim, Pulp Fiction dificilmente será batido. Trata-se de um filme que eternizou a Mia (Uma Thurman) levando injeção cavalar de adrenalina no coração, miolos estourando e espirrando sangue dentro de um carro ou a mesma Mia acompanhada de Vincent Vega (John Travolta) na lanchonete que vende um misterioso milk shake de 5 dólares.
Aliás, Hans Landa foi o mais apaixonante vilão do ano. Já Bastardos Inglórios foi o melhor e mais original filme que pude assistir em 2009. Até mesa redonda de futebol na TV parou de falar do Brasileirão para elogiar o filme, que chamaram de um "gibi filmado". Quem viu sabe que não estou mentindo. O jornalista mais apaixonado por Tarantino se chama Juca Kfouri. O segundo mais apaixonado é o Fernando Calazans.
Obama disse que Lula é o cara. Isso porque ele não conhece nenhum roteiro do Tarantino. Ainda.
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Amigos sobreviventes, desejo para vocês um feliz 2010, o último ano de uma década muito louca.