24 abril 2010

O Malabares acabou

Este blog não existe mais. Não consigo mais postar, e nem é por falta de tempo. Se tenho algo para indicar, o Twitter está aí para isso. Se quero comentar um acontecimento, falo para quem se interessa. Num bar, de preferência. A questão é: o Malabares se foi.

Já vi várias despedidas em blogs, todas com aquele balanço geral e sonolento da sua trajetória. Quero dizer apenas que neste espaço pude receber elogios, críticas e até xingamentos. E também consegui atingir – mal das pernas às vezes, é verdade – algum propósito. Era “malabares”, e também “genéricos”, exatamente porque não tinha um nicho (essa palavra é engraçada), nem limites para assuntos e formatos. Fiz o que quis, deitei e rolei com essa desculpa maravilhosa que era o título do blog. Malandragem pequena.

O Malabares durou 5 bons anos. Deu para dizer várias abobrinhas e evitar a exposição da vida pessoal muitas vezes – mas, não pude esconder mente e coração nas ficções e citações. Não sou mágico (ainda!).

Por falar em ficção – e no próprio jornalismo –, continuo escrevendo. Os dois, ficção e não-ficção, que no final das contas se parecem muito. Só que escrevo sem postar. Com relação ao texto, posso dizer que passo por um momento bacana: o de escrever em segredo, trabalhando em cada (e por cada) palavra. Um dia elas aparecem por aí, quem sabe...

Quero agradecer a você que ainda gasta algum tempo vindo aqui. O que está arquivado, está feito. Como tudo na vida.

Um abraço.

29 março 2010

22 março 2010

Dou um rolê

São encontros e desencontros. Não é o acaso. É um jogar-se consciente – é querer o amor, e é buscar a paz. É o mais legítimo crime. Sem desculpas, baby.

A padaria a dois, o bar a dois, a cama a dois, o trem a dois... Aponte onde não se quer assim, a dois? Esqueça uma bandeira: a liberdade não corre pelo ralo se escolhemos ser par. Aceite uma ideia: querer tudo é se matar. O tudo é qualquer coisa grande demais e espaçosa o bastante para uma só pessoa. Ganhar é perder. Mas, perder não é ganhar.

Sei, já sei, para se permitir tem que ter boa dose de querer. Mas, se se quer o mundo, não se quer nada. Eu só quero caminho meu. Hoje é assim.

Ando com lembrança do que foi amor e até penso no que será, que será. Mas não é isso: quero cair no mundo, bem no fundo, sem dó. Hoje vou ficar rasgado, sem remédio. Não é muito. É caminho meu. Não já disse antes?

Acaso? Escolha. Quem corre, morreu. Só vive quem escolhe.

Porque cada alma carrega seu tempo e o absurdo dos medos, de modo que o desencontro acontece em um número muito maior do que o encontro - esse milagre, a vida. Veja o mundo.

Não escolhi o milgare porque já marquei de cair no mundo.

Viva onde for, baby, viva. Sem desculpas. Sorry eu.


A Pair of Shoes - (vangoghgallery)

18 fevereiro 2010

Ponte aérea

O Nick Ellis (@Nickellis) escreveu um texto interessante sobre a superação desse conflito bobo e ingênuo de alguns paulistanos e cariocas. Acho engraçado esse tema surgir (sim, tem mais gente falado sobre isso por aí) logo depois do carnaval. Sintomático, não?

Não conheço Nick, que já se definiu como o carioca mais paulistano do mundo. Concordo com seu ponto de vista, sobretudo porque não há nada mais imbecil nessas discussões do que esquecer algo óbvio: o Brasil (e o suor do trabalho dos brasileiros) está muito além dos limites das duas capitais.

Fico imaginando se outras partes do mundo também perdem tempo com antológicas picuinhas. E sempre surge o exemplo das megalópoles, como no Japão, que usaram o tamanho e o poder de várias cidades para construir algo ainda maior. Nessas horas, o trem-bala pode até parecer um elemento unificador e apaziguador desse embate tolo que rola por aqui.




Tem gente que sempre vai apontar as razões históricas do conflito e outros que vão achar nele um elemento importante do folclore nacional – a ironia que não mata, como aquela do português burro que sempre pisa na bola da inteligência. Na véspera do carnaval deste ano, por exemplo, era notório o número de paulistanos que anunciavam a sua viagem para o Rio e, do outro lado, cariocas que se perguntavam: “o Rio vai ficar cheio de paulistas. Para onde correr?”.

Às vezes dou risada do chiste e a nossa literatura está recheada de menções bem-humoradas (outras nostálgicas) à rivalidade São Paulo-Rio de Janeiro. O Nick Ellis encontrou uma mal-humorada aqui, mas temos bons exemplos por todos os lados. O Marcelo Rubens Paiva foi quem escreveu o melhor texto sobre o assunto, mas jamais vou encontrá-lo de novo.

Bem, é evidente que são duas cidades maravilhosas. Para mim, o Rio está guardado para sempre nas memórias infantis, em passagens familiares e surreais por lugares que enchem os olhos de qualquer mortal. Já São Paulo, esta terra que divido com tantos amigos na mesma toada, é a cidade que escolhi para trabalhar e crescer (não necessariamente nessa ordem) e, nisso, ela é uma mama de seios fartos. O que não significa dizer que no Rio e em qualquer outro lugar não há espaço para isso.


A pergunta é: mas o que é, afinal, ser paulistano ou carioca? Certeza mesmo, só o que vemos: duas cidades grandiosas que abrigam (acredite!) uma gente louca da vida para superar problemas e tristezas coletivas. Acho que ser carioca ou ser paulistano é algo mais do que relativo, tão certo quanto o recorde de calor ou a enchente do ano.

Como lembrou Nick, Rio e São Paulo são duas belíssimas cidades brasileiras, porque são feitas de (e por) brasileiros – todos da gema e da garoa.

16 fevereiro 2010

É preciso cantar e alegrar a cidade

A quarta-feira de cinzas chegou. A data é o primeiro dia do período de 40 dias que antecede a Páscoa, na visão cristã. Teologia à parte, celebra-se o fim do carnaval e tudo aquilo que ele pode representar em tão pouco tempo.

Há algum tempo, quarta-feira de cinzas tem sido para mim a deixa para uma das músicas mais lindas desse mundo. Vininha, nosso poetinha, sabia das coisas.

Ele não falava de quaresma. Guardava a esperança de ter o melhor do carnaval em todo o ano, por toda a gente. Acreditava que "a tristeza que a gente tem, qualquer dia vai se acabar".

Você pode achar que é papo de bêbado. Prefiro saber que Vinícius entendia das coisas. Ele via longe. Tanto faz se você pulou ou dormiu nos últimos quatro dias. Ninguém pode dizer que não ouviu o poeta nos alertar da existência de "tão grandes promessas de luz, tanto amor para amar de que a gente nem sabe".