23 abril 2009

De cabeça

Há algum tempo não estou na Universidade. Pretendo retornar. Quem sabe um mestrado? Não tenho previsões.

No programa Invenção do Contemporâneo desta manhã, na TV Cultura, ouvi o sociólogo Bernardo Sorj falar de um tema picante feito chilli: O Mal Estar Metropolitano. O papel da Universidade foi o que mais ficou na cabecinha.

O indivíduo está confuso diante da falta de referências? O moderno sistema de troca de informações cerca e pressiona as pessoas? O individualismo cresceu? A tecnologia virou o motor das relações sociais?
Se você assinalou como verdadeiras "todas as alternativas anteriores", sabe que não é difícil concordar com tudo isso. Uma meia dúzia de livros já ajuda. Ou não.


Sorj concorda comigo e eu concordo com Sorj. Essas coisas satânicas, palavras diabinhas como "consumismo" não podem ser tratadas pelos intelectuais como uma monstruosidade, um troço a ser pisoteado sem maiores preocupações e comprometimentos. "Porque o pobre precisa se matar para comprar um celular? Porque ele precisa trabalhar e para trabalhar se exige que seja localizado", disse Sorj.

A tecnologia está no meio de tudo o que fazemos. Da diálise no hospital ao simples acerto do horário do futebol com os amigos. Mas tecnologia custa dinheiro.

O consumir tecnológico não é um bicho-papão somente. Ele acorda todo dia, dá "bom dia" e "boa noite" (às vezes!). Ele é o chiclete que nos une ou separa na sociabilidade mais atual.

Quando boa parte dos oráculos dos templos do saber vão perceber que há uma abismo entre as ilhas acadêmicas e o resto do mundo? Sei que são vários, mas também não é um só o mundo em que a tecnologia é comprada e comparada por yuppies e catedráticos?

Eu sei que não é simples. Eu sei que não são todos. Eu sei que este é um post pires com pretensões faraônicas.

Cá, da minha ignorância e mundanice, viajei com um consumo: a Universidade comendo um pouco mais das ruas; e as ruas dando uma mordida com gosto na Universidade.

Mas, vou embora, deixo de bobagem. Caetano diz: "Eu canto com o mundo que roda (...), mesmo que eu não cante agora".


5 comentários:

Gabriel Ruiz disse...

Bruno, vc está brilhante nesta passagem, pela vida. E graças a tecnologia, diga-se.

[]

ellidha disse...

Uma das funções da universidade pública é produzir conhecimento para a sociedade. Em alguns países, investe-se muito em diversos projetos, experiementos e pesquisas para que pelo menos um seja aproveitado. No Brasil, as bolsas são escassas e os valores, ínfimos. Todo mundo sabe que os nossos inventores, pensadores e afins são cooptados por outros países para desenvolverem conhecimentos por lá. Mas, ainda assim, a academia continua distante da população. Em certo sentido, acho que deve ficar mesmo. Porque fora dos muros do saber, vivemos na tal sociedade 'consumista' e 'capitalista' e a produção do conhecimento não pode ser mensurada deste modo (e nem é, já citei o valor ínfimo de bolsas de estudos). Na verdae, este teu post tem assunto para mais de metro para se comentar. Vou deixar um pouco para os outros :)
Beijo, brunão!

Bruno Espinoza disse...

Gabriel, obrigado. Vc é muito generoso nas palavras, isso sim.

Elida, concordo com vc. O tema é espinhoso, por isso é um "post píres". Na graduação fui privilegiado porque tive a possibilidade de ser pesquisador e bolsista. Mas algumas questões sobre o isolamento acadêmico me incomodam. Não acredtito que a Universidade precisa saltar para fora de seus muros, já há perigos demais do mundo corporativo saltando para os jardins da Academia. A busca da isenção é primordial para a reflexão.
Mas, pedestais intelectuais são perigosos porque escondem algumas coisas. A primeira é a constatação de que o produtor do conhecimento (especialmente nas ciências humanas) carrega altas doses de subjetividade que são forjadas nas relações sociais mais cotidianas. Há contaminação, e é normal, até bom que aconteça. Com cuidado, mas com sinceridade em reconhecê-la. Isso que me parece faltar.
Espero que a ideia tenha ficado "legível". Um beijo.

Juliana Sayuri disse...

hum, gostei :)
mas o post poderia ser menos pires e mais faraônico.

Giovanna Borgh disse...

ótimo!!