10 agosto 2009

Gripe social



Senti de perto os efeitos menos colaterais da Gripe A na semana passada. No metrô.

Na estação Paraíso, onde todos fazem baldeação, uma mulher muito apática se escorava no ombro do seu namorado, marido, amigo, algo assim. Ao entrar no vagão, sentaram-se perto da janela – ela com orelhas profundas, cara de dor, fraqueza e a máscara cirúrgica.

Na época da Virada Cultural, há três meses, vi muita gente com essa máscara na rua, no Largo do Arouche. Era um tanto ridículo a pivetada mascarada e cantando Wando. Parecia fantasia coletiva que todos deveriam ter combinado pela internet ou ter tido a mesma magnânima ideia. Há três meses, a gripe era coisa do México.

Mas, no metrô era coisa séria. Tanto que a mulher entrou sem ser percebida, mas, bastou passar duas estações para as pessoas terem todo o tempo do mundo para tirar os olhos do vazio e perceber a mascarada doente.

As máscaras devem ser usadas somente por quem está infectado. E isso, hoje, só não sabe quem não quer.

Por isso, ou porque pouco desejamos uma morte tão estúpida, as pessoas se afastaram, vociferavam olhares de reprovação. “Como pode essa mulher com a tal gripe aqui, justo no metrô onde estou?”. Nos olhares parecia que nada poderia explicar o fato da mulher não ter um carro para se deslocar ao hospital. Aos poucos, os assentos mais próximos ficaram desocupados. As pessoas se recolhiam.

Imaginei uma ficção, o mundo em histeria e tomado pela peste. Pouca coisa mudaria. Todos ainda estariam sobrevivendo no eterno isolar-se. Com gripe ou sem gripe, você também já deve ter visto e feito algo assim.

Um comentário:

Giovanni Giocondo disse...

Enquanto uns se isolam por vontade própria, outros se esforçam para não ficar sozinhos. E não conseguem.

Acredito que estamos todos doentes. Contaminados pela influenza do medo do desconhecido e da ignorância.

A gripe já virou febre. E o nosso dia-a-dia aborrecido continua cada vez mais sem antídoto.