15 novembro 2006

O Volver dele e delas







"Tengo miedo del encuentro con el pasado que vuelve a enfrentarse con mi vida...Tengo miedo de las noches que pobladas de recuerdos encadenan mi soñar..."

Quando a voz de Estrella Morente rasga no restaurante em que Raimunda (Penélope Cruz) reconstruiu, dublando a própria performance de Raimunda, toda saudosa da canção e da juventude, eu gelei na poltrona do cinema. Queria ter dado um abraço em Almodóvar naquele mesmo instante e ter dito: Se quiser terminar o filme aqui, logo assim, com a Carmen Maura chorando sofrido no banco do carro, pode acabar que já tá lindo". Mas o filme não acabou, e eu tive que me esguelar pra não chorar até o definitivo fechar da porta.

O filme é lindo. Sinceramente e humildemente lindo. Não sei, mas é difícil falar dele. Já me disseram que eu tenho uma alma de mulher e que, por isso, Pedro Almodóvar e eu nos entendíamos - duas almas femininas encarnadas em homens. É muita presunção. Não sei.

Sei apenas que Volver toca o coração - com as canções, as lágrimas, os segredos de três gerações de mulheres e com o olhar da Penélope, essa musa que aqui anda em chamas, conseguindo ser forte, mesmo frágil. Toca a memória também - com a lembança dos mortos que não morrem, com a deseperança esperançosa da vida, com o dia-a-dia tão monótono que nos desafia a enxergar uma beleza escondida nas amarguras, nos remorsos, no passado esquecido através da vida presente.

Alguns irão chorar com Volver, outros rirão. Haverá os indiferentes, é verdade.

Mas duvido, mesmo, que após cada tomada anti-horária de cena (que chega até a debochar do nosso olhar acostumado com uma massa de filmes com ações da esquerda para a direita), que depois das cores vibrantes de sempre, das mulheres, das canções e da Espanha tão recôndita de Almodóvar, não haverá um coro interno dentro de nós dizendo: "esse filme é mais que filme". Um dos poucos que nos atreveríamos a chamar de película, em pleno Brasil.

Foi isso que achei de Volver do Almodóvar. Uma sucessão de sentimentos que remontam os medos, la soledad, as ilusões perdidas, as saudades rememoráveis numa canção, as dores caladas, os encontros impossíveis, diante do tempo que corre nos trilhos da fugacidade da vida. Tudo num intenso vai-vem de lembranças que dóem, mesmo quando roubam os sorrisos das suas mulheres tão bravas.

E, é claro, na leitura do coração dessas mulheres, que habitam aquele miserável lugarejo hispânico, onde os choros e risos tanto machucam, a ponto de nos remeter aos nossos próprios retornos, nossas varias vueltas. O nosso cotidiano "volver".

14 novembro 2006

Um mês ou 14.400 miojos para as férias! (Será?)*

É, as férias se aproximam. A cada ida ao shopping ou olhada, de leve, a uma vitrine nas ruas, um tremor arrebenta o peito. Tudo lembra o natal. Isso me assusta. E já seria o bastante dizer que não gosto de natal, o que não é mentira.
Mas é que isso me recorda o 25 de dezembro (jura?) e, automaticamente, martela em minha cabeça dizendo: "Você precisa cumprir o prazo", "Você vai se fuder, meu filho!"
O prazo é dia 10 de janeiro, o desgraçado dia em que devo entregar o famigerado relatório parcial da minha pesquisa à FAPESP. Traduzindo meu drama: uns 20 livros para ler até a data do bom velhinho e muitas páginas em branco que esperam minhas palavras "acadêmicas". Porque eu ainda estou aqui, nesse blog, ao invés de arregaçar as mangas e cumprir os meus deveres? Nem eu sei.


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Resolvi mudar meu estilo nesta joça. Dá para perceber, imagino. Existiu um vácuo, sempre. Isso porque fico esperando a bendita inspiração, para escrever algo, digamos, sublime, honroso. Ela não vem. Consequência? As moscas reinam nessa página. Por isso, quero ser prático, falar de coisas práticas, e da minha vida cotidiana. Que não é tão prática assim. Fazer o quê!?


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Sábado teve churrasco da minha sala - 3º ano de Jornalismo da Unesp. Muito bom. Somos amigos unidos na bebedeira, ao menos. O que não merece troféu, é verdade, mas...
Troféu, por sinal, foi a ressaca. Que se foi perto da hora do Fantástico.
E na cabeça alguns flashes ficaram. Das risadas, das goladas, das baforadas, dos ziriguiduns que eu não sei sambar, do fiapo de carne no dente, dos bons momentos, dos amigos posando para as fotos, da malícia brasileira (eu tinha que usar isso um dia!), dos coquetéis tão coloridos (brilham mais que chiclete!) e do meu bom irmão, que veio e matou minha saudade ao me erguer ao alto numa singela demonstração de carinho fraternal.
A bebedeira foi realmente muito boa. Nada a acrescentar. A não ser uma leve impressão: no dia em que os cabelos brancos vencerem a guerra em minha cabeleira, esse "churras" ainda vai dar saudade.


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Minha garganta dói nesta segunda-feira. O fim-de-semana passou rápido, minha família veio e logo se foi. Mas o melhor do começo da semana foi saber, olhando a capa da Veja numa lojinha de posto (não ia pagar pela Veja, oras!), que a Starbucks (sim, aquela do café naquele copinho prático dos filmes de Hollywood!) virá ao Brasil.
Ou seja, mesmo que o café seja uma droga, penso em um dia, quando for a Sampa, ir lá garantir o meu Starbucks, é lógico. Vai ser igual à 1993 ou 94, não sei, quando eu pisei triunfante no McDonalds e apontei (feito turista que se vira no exterior usando as artimanhas da mímica apreendidas no bom e velho "Imagem & Ação") para o meu primeiro pedido ao Mr. Donald. Um McChicken!

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* Considerando que um Miojo (não vale Cup Noodles) requer 3 minutos de preparo.