27 abril 2008

Virei

De sábado para domingo a cidade, o centro da cidade abriu caminho para a Virada Cultural. Na sexta, como em toda a semana, a propaganda foi grande. Na Globo local, uma mulher de meia idade estava exageradamente convicta: "É fantástico morar em um lugar que proporciona essas coisas sempre". Queria ter a chance de lembrar que a Prefeitura, recolhedora de gorduchos impostos, não faz nada excepcional ao garantir 24 horas por ano para um leque de atividades que apelidamos de lazer. É dever, mas deixando minha rabugice no túnel do metrô, fui para a rua.
Impressionante a noite avançar e ver a calçada e o asfalto tomados por gente e gentes. Diverso e anacrônico movimento pelas pistas, as leis de trânsito para as cucuias - se é que elas já não foram em dias comuns. Vi muita gente sorrindo, isso faz bem. Se há explicação, diria que por estarem ali, em hora pouco convencional, perambulando com o mesmo propósito, ou com o propósito de não ter propósito. Relax grupal.
No pé do Copan, o palco Meninas. Deu para conhecer e dançar os tuntuns de Marina de la Riva. Gostei. Indo atrás de banheiro num bar nas travessas dalí, uma batucada pára na rua, com aqueles tambores tipo Nação Zumbi que eu não sei o nome. Umas projeções geométricas na fachada branca de um edifício alto e o som na minha cabeça já foram enzimas suficientes para dançar uma espécie de boi bumbá, quando misturadas à cerveja quente que foi a que deu pra comprar por um preço justo. Momento espontaneidade, também bom.
Caminhada cruzando a praça da República, com a galera branca de preto, na cola de algum cabeludo com jeans agarrado e com a cara de "eu sou do rock". Esses pontos, em particular, sempre parecem extremamente adolescentes e não me trazem tantas boas lembranças, não sei bem a razão. Por isso, em frente, sigamos!
E aconteceu uma paradinha. Localizar os conhecidos sem GPS na esquina que fez, não sei se mais faz, alguma coisa acontecer no coração do Caetano. Dalí em diante era enfrentar a São João, com uma multidão esperando por Zé Ramalho. Nunca vi tantos fãs do dito cujo reunidos, mas meia hora, após cotoveladas, pular placas e quase beijar o asfalto, bastou para entender. Não havia fãs, havia a multidão, querendo cantar aquela que foi a última do set do Zé. No empurra-empurra de um curral de quatro quarteirões, todos foram fiéis: "ê, ô, ô, vidá de gado!!!".
Não dava para esperar os Mutantes. Aquela muvuca não enfrentaria nenhuma mutação positiva. Por isso, boa opção era rumar para Santa Ifigênia, onde o Boteco de Bambas estava armado e pegando fogo. O sorriso veio fácil, nem uma dor de barriga ingrata impediu o sambado sem jeito. E, no meio de crioulos e crioulas simpáticos e muito, muito mais educados que a turma do oba-oba no curral da São João, a Virada valeu a pena. Samba bom ao lado de gente boníssima.
Viaduto e Largo São Bento para o metrô. No largo, aliás, uma dúvida esclarecida. No guia da Virada havia a indicação de que alí montaram o Silent Disco, descrito como "discotecagem para fones de ouvido". É, era isso. Um silêncio só e um bando de "fonados" ouvindo e dançando juntos na pista. E havia fila para usar os benditos fones. Se nos ônibus e calçadas e metrôs já vemos tantos isolados com fones, um pedaço da Virada acolheu esse nicho emergente. Acho que era em respeito ao mosteiro.

Bem, foi isso. Dalí, casa. A dor de barriga teve final feliz e no domingo deu para ir ao Mercadão fazer programa de turista abocanhando aquele exagero de mortadela. Nada de show, corpo moído. Na volta, os "fonados" estavam lá no largo São Bento, nem ligando para o sol. Um silêncio...Coisa esquisita, fazer o quê!

Sei só que foi bom e bem diferente um final de semana em São Paulo assim, com outros sobressaltos, pelas esquinas outras alegriazinhas, tão diferentes das alegrias quadradas dos dias da semana. As minhas, ultimamente, costumam ser o pão na chapa com café com leite na padaria pela manhã e sentir aliviado na fuça a brisa baforenta que se desloca pelos túneis do metrô.


18 abril 2008

Com quem entende do riscado

“Veja bem, escolho temas que me instigam e a política é um deles, até porque o bom é falar mal e na política dá pra fazer isso”, alegou Angeli. Caco Galhardo, ao seu lado, já cortou: “Ah, eu não! Quanto tempo perdi numa mesa de bar falando de política? Que função isso teve? Tá tudo uma merda, aí você desenha e o cara olha a charge e fica chapado, sacia seu desejo e pronto, acabou”.

Angeli: “Você tá em crise, né?”. Gargalhada geral.

Esse foi o espírito do encontro
“Como fazer política com uma coisa chata, a política” que a revista Paiuí promoveu ontem aqui em São Paulo. Angeli, Laerte e Caco Galhardo deram e proporcionaram boas risadas ao lado do genial mediador Paulo Caruso - sim, aquele que desenha no Roda Viva.

Paulo Caruso, aliás, apenas 20 minutos após o início do debate caiu na real: “ah, agora eu entendi, estou aqui porque o Galhardo escreveu na Piauí que está de saco cheio de política”. Outra onda de risadas. E foi assim, relembrando marcos como o
Chiclete com Banana, que eles abordaram a política como sempre bem fazem: com humor. Da platéia mandaram: "o que é brochante na política?". Galhardo não hesitou: "Tudo que dá certo em política é brochante. Se dá certo não dá pra falar mal".

Claro, ouvi os murmurinhos adolescentes na fila de trás: “São uns niilistas”. Baboseira. Gostei bastante do Angeli admitindo que fez Chiclete porque já sentia a deterioração da ditadura e porque sempre achou bom falar de costumes, comportamento. “O Ziraldo, o Jaguar, esses caras foram importantes no
Pasquim e tal, mas antes da ditadura a matéria-prima do desenho deles era essa que eu gosto, que é o comportamento”, disse.

E foi o Angeli que me deixou emocionado ao relembrar o Henfil. “Eu e o Henfil brigamos, ele era difícil, chato. O arquivo dele era irritante. Surgia um tema, ele levantava e dizia ‘eu já tenho!’. Corria para o arquivo e voltava com a charge. Irritante”. E completou: “Há um tempo falaram sobre um tema e eu pude, enfim, dizer: ‘eu já tenho’. Senti um orgulho fudido”.



"Política é uma merda!"(Caco), "Política é brochante porque quem faz política não têm tesão" (Angeli),"Eu não trabalharia na Veja. Tenho nojo da Veja. Eu abro, leio o Millôr, e só" (Laerte).

10 abril 2008

Quem viu Zé Pereira?

Uma nova revista descobri apenas na semana passada. A revista Zé Pereira, do Rio de Janeiro. Ela foi mencionada naquela seção Revista das Revistas do Estadão. O jornal deu destaque para o magazine carioca, que é isso mesmo: carioca. Apenas abri o site da publicação, louco de curiosidade. Há coisas como "D. João e o bacanismo carioca" e a entrevista "Gerson King Combo e os Mandamentos Black", sem falar de uma coluna rica de ricos cronistas inesquecíveis. Destaque para o "escrivão" Lima Barreto, o grande pingente da nossa literatura. Alguns de seus textos agora estão na Zé, ao lado de arte, rádio e humor debochado, na boca dos personagens que os cariocas bem devem conhecer de longe.



Sim, vale a pena conferir a revista lá do Rio que, pelo que vi, custa apenas 2 reais. Segundo o Estadão (exageradamente naquele estilão "revista piauí é a ressureição da Realidade"), as reportagens da Zé Pereira são resultado do "corpo-a-corpo com a realidade". Na verdade, só prestei atenção na Revista das Revistas quando passaei os olhos por esta expressão. Pensei: Opa! é coisa do João Antonio, que escrevia exatamente a coluna Corpo-a-corpo no Última Hora. Ledo engano.

Não vou desconfiar de Zé Pereira, que tem a sua beleza e valor. Afinal, não deve ser fácil fazer o que fazem na era Veja. Mas, o Estadão foi fanfarrão. Corpo-a-corpo só João Antonio. No Rio, vá bem, mas sem Pereira nem Macieira pra fazer sombra, rapá!