15 setembro 2006

A minha não, Armando

O bom brasileiro pode se dar ao luxo de filosofar - até sobre a primeira vez - com o respaldo do conhecimento sem-fim que só o futebol propicia.

Na TV, dia desses, assisti ao maior cronista do futebol deste País, o lorde Armando Nogueira, responder mais uma vez à pergunta "Mas, qual é a melhor seleção brasileira campeã do mundo?".

Pergunta cenozóica. Armando já a respondia antes de eu nascer. Mas, elegante, o lorde novamente não perdeu a linha da lucidez:

– Meu jovem, a seleção de 70 era bela, imbatível. Só que a de 58 é como o primeiro beijo.

Todos entendemos. Quando ouvi o Armando, pensei: “Puxa vida, o primeiro beijo?”. E até lembrei do meu, na porta de saída da infância, no Pará. O beijo nervoso, escondido, ingênuo e primeiro. O beijo que ninguém esquece.

E peço perdão a Armando. É que preciso dizer: os seguintes foram melhores.

E tem outra. A seleção de 58 pode ser como o primeiro beijo para o bom Armando, o homem que se fez presente em quase todas as Copas.

Mestre Armando, sou mais um verde-amarelo que na Copa do Mundo viaja apenas do quarto para o sofá da sala!

Nosso lorde da crônica esportiva pode ficar com a seleção de 58 porque só me foi reservado um beijo eletrônico. Via satélite! Meu primeiro, como o de tantos, veio lá dos States - que, pelo menos no futiba, (ainda) é coadjuvante.

Para completar, beijamos na retranca e o beijo só veio porque o Baggio foi parlar com a Lua e acertou a torre de Pisa.

Dá até vontade de esquecer um primeiro beijo assim. Na memória restou ainda aquela voz rouca e enlouquecida do Galvão. “É tetraaa!”.

Nessas horas dá pena não ser o bom Armando Nogueira.