Já sabemos: abril começa com o dia da piada obsoleta. Aproveitando as novas mídias, uma algazarra das fake news pode se repetir, sem dispensar, é claro, uma mãozinha da falta de criatividade em massa. O bobo dia da mentira é igual a conversa de elevador - sempre igual, sem graça e descartável. Um pouco da Guerra dos Mundos narrada por Orson Welles nas fábulas mais recentes? Pelo contrário, está programado. A data no calendário só para as enganações virou até desculpa para ações de marketing. Mas não adianta: mentira boa e sincera não tem dia.
Algumas verdades, se arruinadas, aliviariam a vida. Como não há meios de se conseguir uma máquina da spotless mind, alguns acontecimentos bem que podiam estar fincados no terreno da ficção. Há 45 anos, algumas imagens e notícias poderiam não ter sido reais.
(Editorial do Correio da Manhã, 1/04/64): "Só há uma coisa a dizer ao Sr. João Goulart: Saia!"
('São Paulo repete 32', de O Estado de S. Paulo, 1/04/64): "Minas desta vez está conosco (...) dentro de poucas horas, essas forças não serão mais do que uma parcela mínima da incontável legião de brasileiros que anseiam por demonstrar definitivamente ao caudilho que a nação jamais se vergará às suas imposições."
(O Globo, de 2/04/64): "Fugiu Goulart e a democracia está sendo restaurada (...) atendendo aos anseios nacionais de paz, tranqüilidade e progresso (...) as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-a do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal".