07 janeiro 2009

Esporte bom para cachorro

Os maiores feitos esportivos do Brasil se devem, em grande parte, à invenção da Inglaterra, o berço do futebol. Pouco se fala, mas outra criação da “terra da rainha” figura entre as mais recentes conquistas do País. A modalidade não usa bola, nem pés. Há saltos em altura, condutores, obstáculos e equilíbrio. São passarelas, rampas, gangorras, túneis, pneus. Não é hipismo, apesar de essa ser a sua inspiração. As medalhas que vieram da Finlândia em novembro foram conquistadas por duplas de cães e condutores do agility.

Em Helsinque, na disputa por equipes, os cachorros brasileiros deixaram os donos orgulhosos. O País esteve no topo do pódio das categorias mini e standard, o melhor resultado do Brasil na história do Campeonato Mundial de Agility. O técnico da seleção, José Luiz Filho, um sujeito confiante no trabalho, não esconde que considerou o resultado inacreditável. “Começamos a treinar semanalmente cinco meses antes da viagem”, diz. “O que nos falta é mais campeonatos, patrocínio e parcerias”.

O agility consiste em um circuito com obstáculos. Orientado por seu condutor, apenas com gestos e comandos verbais, vence o cão que completar a volta mais rápida e com menor número de faltas. O esporte surgiu como brincadeira há 30 anos. Na exposição da Crufts Dog Show, os ingleses se distraíam com os cachorros nos intervalos das apresentações. Há dez anos no Brasil, o agility deve agradecimentos a Dan Wroblewski, coordenador da Comissão Brasileira de Agility (CBA).

Veterinário que nunca quis atuar na área clínica, Wroblewski trabalhava há quatro anos em uma fábrica de alimentos para cachorros quando foi escalado, em 1993, para pesquisar e introduzir o agility no País. Com os louros da vitória 15 anos depois, ele espera que as conquistas ajudem a popularizar o esporte. “Quanto mais pessoas praticam, mais integração com os cães. Nas grandes cidades, já se percebe que isso melhora a qualidade de vida”, diz.

No Brasil, o esporte ganha espaço como atividade de lazer em prédios e canis. Até o técnico José Luiz Filho, que também é veterinário, já foi consultado para a construção de playgrounds para cães em condomínios. Hoje, a CBA tem cerca de 500 associados. “Mas há mais gente fora dos números”, diz José Luiz. “Acredito que existem 2 mil praticantes no Brasil”. O sucesso tupiniquim no esporte canino é o grande responsável por trazer para o Brasil o Campeonato Américas e Caribe, em abril.

TV para cachorro

Para Wroblewski, o agility não se restringe aos competidores. “Quantas pessoas praticam futebol ou natação como esporte? A maioria busca o lazer, o bem-estar”, argumenta. “Se tivéssemos mais áreas para a prática, com melhor identificação dos cães, o número de cachorros errantes, doentes e atropelados seria menor”. O veterinário insiste que a “filosofia” do esporte é sociabilizar cães e pessoas. Para ele, é como se a atividade proporcionasse uma comunicação entre o cão e o dono, superando o simples passeio matinal pelo quarteirão e as brincadeiras sem interação.

Em Helsinque, Wroblewski também se surpreendeu. “Ganhar lá é ganhar na terra do cachorro”. Na Finlândia, o agility é o segundo esporte em número de federados. São cinco mil praticantes em um país de 5 milhões de pessoas. No mundial com ginásio lotado a televisão finlandesa transmitiu ao vivo os saltos dos pastores de Sheltant e border collies brasileiros.

Dupla

A fonoaudióloga Vivian Razel, de 39 anos, é uma condutora que conheceu o agility antes de achar um cão adequado para os saltos, desvios e corridas. “O agility me proporcionou uma relação sadia com o cão”, diz. Na sua lista de exageros aparecem treinos sob chuva e troca de carro para melhor transportar os cachorros. O primeiro parceiro escolhido foi um border collie chamado Elvis. “Foi amor à primeira vista”, admite. “A nossa história começou quando o Elvis nasceu. Um mês depois o reencontrei e pensei: ‘eu quero para mim’”.

Mas ela teve um duro caminho. “A minha carreira e do Elvis foi sofrida. Ele logo ficou pronto fisicamente e no aspecto tático. Eu não conseguia acompanhá-lo corretamente, dava comandos errados”. Após muitos treinos e competições, conseguiu atingir o nível do companheiro. “Hoje fiz um treino lindo, maravilhoso. Estou satisfeita com a minha condução”. A dupla Vivian e Elvis se diverte há cinco anos.

Texto escrito para aula do Curso Estado de Jornalismo

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