21 dezembro 2008
O ano já acabou
22 novembro 2008
Pobre Somália
Evidente que as operações da última década não eram altruístas. Tampouco a engenhosa ação preparada nos útlimos dias por marinhas de países como EUA, Alemanha, França, Grã Bretanha, Rússia e Coréia do Sul. Diante da crescente pirataria somali no Golfo de Áden, as nações estão dispostas a impedir que petroleiros dêem mais prejuízo no desvio de rota para fugir dos recentes seqüestros de navios e do superpetroleiro saudita com US$ 100 milhões em petróleo. Até a privada Blackwater, o exército mercenário que matou no Iraque, se ofereceu.
É a lógica da globalização. Se é que há lógica no mundo que paga o pato de executivo que ganha os mesmos US$ 100 milhões do petroleiro nos cinco meses antes da atual crise econômica. A lógica? A Somália ficou renegada à prórpia sorte desde sempre, destruída. Como dizem, se um país, ainda mais uma terra de ninguém, não tem nada a oferecer, ele terá o pior destino possível: não será “nem” explorado. Esquecida, ironicamente, a Somália volta em 2008 pelas mãos dos piratas.
A pirataria somali começou na década de 1990. Segundo a ONU, já são 65 navios seqüestrados neste ano. Um terço da população da Somália, 3,2 milhões de pessoas, necessitam de ajuda humanitária.
foto: Sebastião Salgado
20 novembro 2008
FICÇÃO - Como Winehouse para Lady Di
Algumas verdades do senso comum se desmancharam em mitos. Ir ao banheiro em grupo. Para Priscila, banheiro era o lugar de estar só, na intimidade em fuga de um mundo com bilhões de formigas. Mas, quando viu no cinema a executiva convicta recolher-se no toalete da empresa em que trabalhava para berrar toda a raiva que em silêncio cultivava cirroses, considerou aquilo tão ridículo que readmitiu a idéia do bando para a fofoca do pipi. Anos depois a questão ganhou asas comerciais, banheiro feminino virou nome de site e ela esteve certa de que o fim dos tempos estava próximo.
Se a moda prenunciava o uso de scarpin, ela arrancava as galochas do fundo do baú e causava alvoroço na rua. Todas as atitudes indicavam que tinha maneiras próprias de se colocar no mundo. Feliz por não ter nascido na época da sua bisavó, compreendia o casamento encomendado e os crochês pelo resto da existência como males evitados pelo tempo e pela ordem de chegada dos espermatozóides nos óvulos, que desviaram a sua existência da era Cenozóica para que pudesse desabar de pára-quedas no mundo dos homens que assumem sem remorsos o ofício de babás. Seu mamão com açúcar predileto era perceber que sexo não é mais aula de anatomia e que ninguém pensa em apedrejar a Madonna.
Quando nos conhecemos, ela implorava por um Engov em algum bar que fiz questão de esquecer. Organismo recomposto, o perfil “eu sou pós-feminista” foi tudo o que captei. Feito macho moderninho, concordei com todo o liberalismo: a cabeça pra cima e pra baixo diante da autêntica Amélie Poulain na contramão, a do contra. Gargalhada feroz foi resposta que doeu nos ouvidos. Eu, o macho altamente desesperado por um manual de instruções, fiquei sem graça. Ela, atrás dos imensos óculos de mosca, se virou e foi embora para nunca mais.
Guardo lembranças daquele ser que daria orgulho a Darwin. Fui para casa, recolhido, insignificante e perdido ao lado de tantos reduzidos e maniqueístas que perambulam por bate-papos virtuais. Hoje, o cenário invertido e tudo, tenho amigos companheiros nas idas ao banheiro masculino. Nada das velhas piadas machistas. Conversamos sobre Priscilas e suas charadas. Todos me garantem a permanência de duas verdades imortais: mulher nenhuma espera ser chamada de engraçada, nem perguntas sobre quantas primaveras carregam nas olheiras e rugas.
12 novembro 2008
Short Shirts
26 outubro 2008
No Peru
20 outubro 2008
A tabacaria do Sul
Os homens que dirigem as empresas e as entidades do fumo nessa região são precavidos. Se em algum momento são orgulhosos do clima e terra tão propícios ao tabaco, em outros falam de prevenção do trabalho infantil, baixo uso de agrotóxicos, cultura do fumo herdada dos antigos colonos alemães, importância do Brasil no mercado mundial e por aí vai. Também falam sobre necessidade de diversificação de culturas, o que parece um paradoxo, afinal eles fazem muito, muito dinheiro com o tabaco. Mas eles garantem que não: a diversificação é importante e essa é a luta.
Só no ano passado, as 755 toneladas que o Brasil exportou para o mundo todo renderam US$ 2,2 bi. Só com tributos sobre o cigarro o Tesouro Nacional recolheu R$ 7 bi. Em Santa Cruz do Sul, nas sedes de cigarreiras e produtores, não vi um só fumante.
Articulado também é o sr. Milton Fuelber, de 47 anos. Ele foi apresentado pela Alliance One, beneficiadora de fumo, como produtor modelo do sistema integrado de produção que as empresas incorporaram ao lugar. Na última safra, Milton colheu mais de 12 toneladas de tabaco que secaram nas estufas de sua propiedade. Com fala eloqüente, ele nem parece preocupado em plantar mais milho do que fumo. O bolso agradece. O hectare do primeiro vale R$ 1,2 mil; o do segundo bate os R$ 15,1 mil.
Catedral de Santa Cruz do Sul
30 setembro 2008
O admirador dos marginais
Alto e magro, ele não é um sujeito que passa sem que se perceba a camiseta, o jeans e o All Star. Do jeito que se veste, se misturaria fácil com os músicos que sobem, atrás de guitarras, a rua Teodoro Sampaio, em São Paulo. Entre colegas de curso, vindos de diferentes lugares do Brasil, também consegue ser invisível, sair e entrar nas rodas de conversas sem nada falar e com total sutileza, para ficar no seu canto, recluso e reservado. Quando atento, levanta as sobrancelhas, que só retornam à posição natural na hora precisa que pede a fala para uma pergunta ou comentário, sempre coerentes e com a voz baixa e grave. Um leve sorriso sempre encerra a frase e a sua ironia mansa.
A primeira vez que o percebi foi quando falou. Tratava-se da apresentação pessoal que se submete todo foca do curso, como acontece em qualquer início de aula em qualquer lugar novo. Quando revelou de onde veio, um município pouco conhecido, fez referência à cidade mais importante e próxima para tentar esclarecer a sua localização. Achei divertido aquilo. Primeiro porque já passei por sua cidade. Segundo porque a explicação se repetiu nos dias seguintes, sempre aborrecido com a obrigação de detalhar. Depois, pouco falou.
A nossa única aproximação aconteceu no dia em que sentamos lado a lado no refeitório. Apenas me ouvia enquanto eu falava para tentar contato. Não nos olhávamos. Certamente estava com as sobrancelhas arqueadas, ao mesmo tempo em que mastigava e ouvia o meu relato sobre a passagem por sua cidade e universidade. Por duas vezes, após silêncios, respondeu quando não se espera por respostas. Sobre a universidade, revelou predileção por autores marginais contemporâneos e por literatura africana. Sobre a sua cidade, confirmou a existência da cerveja local que mencionei, acrescentando que havia outra marca, mais consumida. Lembrei da bebida, mais barata e vendida aos universitários de orçamento apertado nos botecos e padarias de esquina. Quando terminava esse pensamento, ele já se despedia. Deixou dois pedaços da sobremesa, disse estar apressado e se retirou sutilmente.
13 agosto 2008
Mandarim e caipirinha
Não é só isso. Wang Wei, vice-presidente dos Jogos de Pequim abriu a boca: nem todos os fogos de artifício foram reais, alguns foram imagens em 3D produzidas anteriormente no computador para se ter “efeito teatral”.
Doha que se dane. Os chineses conhecem e adotam o jeitinho tupiniquim e o Brasil já foi apresentado há tempos a todo tipo de bugigangas falsetas made in China. Para o progresso de tanto entendimento avançado, o “maior contrabandista do Brasil”, Law Kin Chong, bem que podia fazer às vezes da “maior furada da diplomacia brasileira”, o chanceler Celso Amorim. Coisa da China!
10 agosto 2008
God save the (big) panties
A rainha Vitória reinou na Grã-Bretanha de 1837 a 1901. A sua influência puritana e austera rendeu a denominação "vitoriana" para as criações (do comportamento à arquitetura) do período, também conhecido por "vitoriano". Também mastigou e comeu bastante as custas de milhares de operários famintos. Isso é bem interessante, mas o senhor Hanson não deve concordar comigo a respeito dessa história vitoriana.
07 agosto 2008
Fogo, faca e faça-me o favor
Hoje, o procurador da República Marlon Alberto Weichert alegou a favor de Genro, dizendo que os atos de tortura são crimes contra a humanidade, crimes praticados por agentes de Estado e sem respaldo político. Enquanto isso, os militares da reserva querem ser cobertos, por ironia do destino, pela bandeira da Lei da Anistia de 1979. Também hoje, o general Gilberto Figueiredo, presidente do Clube Militar deu sua “aula”: disse que Genro está agindo por “revanchismo”, que a sua fala foi um “desserviço” para o País, que há vozes em “sentido contrário” no governo (citou o ministro Nelson Jobim) e que o país, em vez de “ficar de picuinha” e “olhando para trás”, deve “consolidar” a democracia.
Seria cômico se não fosse tão trágico. Pelo menos, em tempos de “consolidação” da democracia podemos saber o que se passa pela cabeça de um general sessentista quando ele abre a boca. Em carta, o militar atacou a revisão da Anistia e disse que Tarso Genro faz questão de “lamber feridas”.
Em tempo: Em dezembro de 1998, Marcelo Paixão de Araújo, herdeiro do Banco Mercantil em Minas Gerais e tenente do exército entre 1968 e 1971, foi o primeiro militar a confessar crimes de tortura e revelar que matou “umas trinta” pessoas. A partir de 2006, o País acompanhou o processo movido contra um dos maiores torturadores do período militar, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, autor do pretensioso A Verdade Sufocada - A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça. Mas, em 2008, a Justiça de São Paulo suspendeu um dos procesos e o outro (não encontrei informações) parece que se arrasta. Já em Brasília, no novembro de 2006, militares promoveram um “almoço de solidariedade” ao coronel Ustra, com uma faixa que trazia os dizeres: “Estaremos sempre solidários com aqueles que, na hora da agressão e da adversidade, cumpriram o duro dever de se oporem a agitadores e terroristas de armas na mão, para que a Nação não fosse levada à anarquia”.
Pena não haver uma faixa na frente da casa de cada boina da reserva com um pequeno lembrete para a "consolidação" da democracia: “Só se lambe ferida porque há ferida”.
29 julho 2008
FICÇÃO - Serafim
Matutar por Alzira, jamais. Figurasse nos dramas babosos, o sujeito sem eira a desabar, o Château Margaux reluziria estocado no peito. Não a branca fajuta, gritada sem licença no ouvido. Zumbido danado. Mas, quem mandou? Esse povo é formiga, teima e tropeça pelo Mercado, encontro marcado com o Xixi de Cobra, a escarlate saída na propaganda mole do pardieiro. “Amansa coração de corno infeliz” é como enganam. Se o da vez era Serafim, os veludos da tragédia do Velho Mundo são firulas a cargo de homem pela metade, tipo grã-fino, triste ou risadinha, nunca estalado nas pisadelas da vida. E Serafim era galhudo dito, sem a vergonha chorosa em admitir. Daí o destino ser todos os goles do Xixi de Cobra e a saudade banana de Alzira bandida.
O filho de D. Manteiga, a filha dum poeta de mentira, cresceu na pilha do jornal antigo do pai. Bunda nas manchetes, sentava bamba, imundo. Coceira vinha, espichava para a aula do velho. O último descabido foi “mulher é no cabresto”. Dia seguinte enterrava o sábio e embrulhava o aviso da véspera como do divino. Alzira só veio quando D. Manteiga avizinhou-se do pai na terra fofa, semana depois. O corte na oficina, serviço no “carro de baitola” do prefeito, veio à noite, caidinha, num presságio da perdição que crispou na porta. Assobio largo, tapete para o rebolado, ela girou. Levado no olhar dum cão, Serafim soltou a ferida, lambeu o beiço, deu bote e pelejou para cair no encardido. Denise, penúltimo enfeite da reboladeira, gostara do capô do baitola.
Três dias e ele achou Denise uma sabida. Deu nada. Na cama, lambuzado, batizou-a Alzira. O fuxiqueiro do povo sobrou e sete luas apagadas foi o tempo fora do batente, fincado nos lençóis do sobrado pelancudo. A rala freguesia jogava na mão do basbaque, que corria o arame para a gaiata. Coisa feita. Arruína.
Desavisada, a mulher mendigou por artista na rua porque o último querer da febre de Denise contagiara o mau juízo de Alzira. O chifrudo, mais desavisado, pinçou o enfarte ao invadir o mimo sem pestanejo, o quarto dos fundos só dela. Um ateliê improvisado, com Alzira em pêlo no chão e o prometido rabudo no ensaio do pincel, faziam do retrato do avô, coisa do espólio de D. Manteiga, testemunha. Serafim sangrou os dois. Para apagar a luz, esforçou-se. Ficou cego de tal modo que não viu o avô, metido a Dalí do Cordel nos tempos de baião sem culpa, rolar uma lágrima no retrato.
Reconheceram Serafim no Mercado. Lembrava do cabresto do pai e tropeçava.
Imagem: Oswaldo Goeldi ("Abandono")
10 julho 2008
Qüiproquó
Ontem, eu e um amigo aguardávamos uma vaga no estacionamento, posicionados atrás, como deve ser, à espera da saída de outro veículo. Neste momento, um Astra preto, que já havia ultrapassado aquele trecho, dá ré e insiste para que também nos afastemos. Se dependesse do caranguejo preto, uma fila inteira estaria em marcha ré, porque aquela vaga lhe pertencia, da mesma forma que os campos franceses estavam justapostos ao espólio real e azul de Luis XIV. Mas, meu amigo não se mexeu. Comprou a rixa. Buzinadas, caras emburradas, o estacionamento lembrava uma creche depois das briguinhas pelo jogo que acabou sem final, com a apelação do dono da bola que, claro, a levou para o quinto dos infernos.
Último ato: a mulher que estava no passageiro do Astra desce, se posta na vaga, só falta deitar no perímetro cobiçado e sujar seu casaco Adidas. Estacionamos mesmo assim. E ela, se fazendo de indignada, veio aos nossos ouvidos: “Vocês são muito sem educação, viu?”.
Isso são valores. É igual a bumbum.
25 junho 2008
Recriar é morrer
16 junho 2008
Língua afiada para quem pode
Outro definidor bom e preciso é o Walmor Chagas. Ontem, li uma descrição sua, daquelas de dar arrepios e sacolejos de inveja. Deu a sentença para o filme Um Beijo Roubado, ao qual assisti mês passado, me fez bem, tava cansado e necessitado da leveza do não-pensar, nem doeu, mas deixou a inércia de não conseguir dizer onde pecava o dito cujo. "É uma comédia romântica norte-americana fantasiada de filme francês" foi como Walmor matou a charada. Ele tem razão. Simples assim.
31 maio 2008
História de pescador
27 abril 2008
Virei
18 abril 2008
Com quem entende do riscado
Angeli: “Você tá em crise, né?”. Gargalhada geral.
Esse foi o espírito do encontro “Como fazer política com uma coisa chata, a política” que a revista Paiuí promoveu ontem aqui em São Paulo. Angeli, Laerte e Caco Galhardo deram e proporcionaram boas risadas ao lado do genial mediador Paulo Caruso - sim, aquele que desenha no Roda Viva.
Paulo Caruso, aliás, apenas 20 minutos após o início do debate caiu na real: “ah, agora eu entendi, estou aqui porque o Galhardo escreveu na Piauí que está de saco cheio de política”. Outra onda de risadas. E foi assim, relembrando marcos como o Chiclete com Banana, que eles abordaram a política como sempre bem fazem: com humor. Da platéia mandaram: "o que é brochante na política?". Galhardo não hesitou: "Tudo que dá certo em política é brochante. Se dá certo não dá pra falar mal".
Claro, ouvi os murmurinhos adolescentes na fila de trás: “São uns niilistas”. Baboseira. Gostei bastante do Angeli admitindo que fez Chiclete porque já sentia a deterioração da ditadura e porque sempre achou bom falar de costumes, comportamento. “O Ziraldo, o Jaguar, esses caras foram importantes no Pasquim e tal, mas antes da ditadura a matéria-prima do desenho deles era essa que eu gosto, que é o comportamento”, disse.
E foi o Angeli que me deixou emocionado ao relembrar o Henfil. “Eu e o Henfil brigamos, ele era difícil, chato. O arquivo dele era irritante. Surgia um tema, ele levantava e dizia ‘eu já tenho!’. Corria para o arquivo e voltava com a charge. Irritante”. E completou: “Há um tempo falaram sobre um tema e eu pude, enfim, dizer: ‘eu já tenho’. Senti um orgulho fudido”.
10 abril 2008
Quem viu Zé Pereira?
03 março 2008
Feito sabiás, partimos
19 fevereiro 2008
São Paulo deserto no peito
Um sábio amigo e mestre já me perguntou se realmente gostamos dessa cidade. "Na verdade, não odiamos isso tudo?". O mesmo me disse para ter cuidado, porque São Paulo pode nos engolir facilmente. Ela me engole com feijoada às quartas e sábados, para o bem e para o mal. E eu nem posso imaginar como existiu um Meninão do Caixote por estas bandas um dia, ou como agiria se euzinho fosse engolido nos tempos em que o suicidouro do Viaduto do Chá dava uma verdadeira colher de chá para os perdidos e cheios de Saara no peito.