25 abril 2007

A ENéSIMA NOITE DA RUA XV DE NOVEMBRO

Idas e vindas da rua santista que brindou a glória cafeeira e suportou a decadência nos anos 80 só para cair no samba nas noites do século 21

Os “pastéis inconfundíveis do seu Shiro”, a mendiga Maria Sapa e o rádio-transmissor do Zé Macaco são algumas lembranças que José Fonseca Neto, 65, e Fernanda Fonseca, 76, guardam da Rua XV de Novembro. Em Santos, o casal trabalhou de 1955 a 1976 no extinto Banco de Crédito Real de Minas Gerais, durante a “época romântica da rua”, como José faz questão de lembrar.
A XV de Novembro não era XV nos primórdios. No século 16, com os patrícios loucos para ligar o porto à entrada da vila, ela nasceu Rua Direita, apesar do desvio forçado por um mangue. Desvio feito, a Rua Direita nasceu assim: torta. Quando a Monarquia foi às favas tornou-se XV de Novembro e se aprontou para brilhar.
No início do século 20, mulher não andava pela XV de Novembro e “a presença de uma era motivo de atenção e assobios”, segundo José. Na calçada dos bancos, corretoras e exportadoras de café, transitavam os homens de negócios. Naqueles anos os cortiços foram ao chão e os barões do café reinaram absolutos quando, na esquina da XV com a Rua Frei Gaspar, inaugurou-se a Bolsa do Café, em sete de setembro de 1922.
A Bolsa do Café, criada para organizar o mercado cafeeiro, é um palácio neoclássico, de recalques barrocos e lembranças da belle époque brasileira. Atual ponto turístico de Santos, ela abriga o Museu do Café, com o salão do pregão e os vitrais e óleos de Benedito Calixto, testemunhas do desespero dos cafeicultores em 1929 com o crack da Bolsa de Nova York. “Deve ter sido uma loucura aqui”, imagina o monitor do museu Wanderley Andrade.
Desde 1998, a XV reúne música e chope no seu happy hour, dedicado aos trabalhadores dos escritórios e ao público em geral. Em 19 de janeiro, o Museu do Café foi cenário para os Falsos Baianos, a dupla santista Conrado Pouza e Wylmar Santos. Quem lá esteve ouviu de tudo, de João Bosco a Carlinhos Brown, na segunda apresentação promovida pela Prefeitura de Santos, empenhada na revitalização do Centro Histórico. Para aplaudir o projeto “Música na XV”, até o prefeito João Paulo Papa conferiu a MPB de Conrado e Wylmar. “Estão enfatizando a veia cultural do Centro porque a cidade carece disso à noite”, reflete Conrado.
O pioneiro das noites da XV foi André Luiz Losada, com sua cafeteria e bar Largo do Café, há 11 anos diante da Bolsa. Sem saudades, André lembra de 1995, quando pela XV perambulavam os mais comuns tipos das zonas portuárias: viciados e prostitutas. “Era uma área degradada e perigosa à noite”. E completa: “o importante é o santista acreditar na XV”.
Foi acreditando que o sambista santista Luiz Américo tirou dinheiro do bolso e abriu a Typographia Brasil, um galpão bem arranjado, ornamentado com bandeiras de escolas de samba e lotado na noite de 25 de janeiro para ouvir o partido alto do carioca Almir Guineto. “A primeira tipografia do País foi a Brasil, aqui na XV, que agora é a rua do samba”, garante Américo. Mas, nem tudo é samba depois que Wanderlei Luxemburgo abriu o restaurante-bar Império Cubano, um espaço dançante, com drinks tropicais e ritmos latinos na vitrola.
E o samba desaperece de dia. Quando a XV amanhece, iniciam suas atividades os escritórios do Luigi Bozzo e Nilo Branco, a Secretaria da Fazenda, o World Trade Center e a Câmara Municipal. Além da Bolsa de Mercadorias e Futuros, vizinha do Bar Retrô, falecido antes das noites de samba e salsa da santista mais ilustre e torta. Como disse José, “são coisas da XV”.





A XV no início do século XX, com engraxate trabalhando, à direita:

Foto: Cartilha da História de Santos, de Olao Rodrigues, 1980, Gráfica da Prodesan, Santos/SP

17 abril 2007

O último adeus dos que já foram

Há tempos uma pilha do jornal que assinamos só crescia na sala da nossa república. Há tempos também dizíamos: "vamos reciclar, jogar fora, mas não sem antes recortar o que pode ser útil".
Há 4 dias começamos a cumprir a promessa, para desepero das traças que morrerão de fome sem suas manchetes. O trabalho é chato, até porque os jornais costumam amarelar, desbotar com o tempo e dissipar pelo ar um cheiro podre de vinagre se reabertos meses depois de largados no canto.
Essas, porém, não foram as únicas conclusões com as "releituras" dos defuntos papéis. Após uma hora de empenho nos recortes, a dor nas costas já me tirava os restos de bravura em consultar papel fedido. Desisti de passar os olhos por tudo. Sem remorsos.
Saldo final da minha rapa: algumas crônicas, duas matérias sobre a transposição do São Francisco, outra sobre Llosa, uma sobre Woody Allen e uma foto do Luxemburgo de 1990, no comando do Bragantino.
As crônicas se justificam, pois não as li e vou fazer isto antes de, provavelmente, elas serem despejadas de casa; as matérias do Velho Chico são uma incógnita, acho que é dorzinha na consciência por não ter me interessado pelo assunto, ou saudade do Nordeste mesmo; as de Llosa e Allen são por curiosidade em dar uma checada na besteira que o jornal publicou sobre eles desta vez; enquanto a foto do Luxemburgo é motivo pessoal, familiar. Vou mandá-la para uma tia distante, que o adimira, só pra mostrar, de pirraça mesmo, como o homem do black tie já teve seus dias de Sidney Magal.
Como tudo na vida traz uma lição, já dizia e diz D. Valdice, minha vovó, aprendi que jornal é jornal. A natureza do jornalismo emboca na efemeridade do ontem, que amanhã será anteontem. Pode doer para quem pretende escrevê-lo todos os dias, mas isso é fato. É verdade também que a dor maior - pelo menos deveria ser - é por alimentarmos memórias efêmeras.
As reflexões vieram logo após as dores nas costas, mas não vamos esquentar a cuca com isso. No final, o vinagre sumiu, as mãos pretas levaram um bom detergente e quem aqui está lendo não vai saber qual é o jornal que assinamos porque não vou fazer propaganda de graça, oras.
E, saibam todos, a matéria alfineta o Woody Allen. Pobre Woody Allen!

12 abril 2007

Na esportiva

Que não digam...
Santos e Bragantino, São Paulo e São Caetano. Estes farão as finais do Campeonato Paulista de 2007. Surpresa para poucos, é verdade. Mas, publico o que não me surpreende desde sempre: a má vontade da imprensa esportiva paulista em falar sobre o Santos.
Não digo a simples menção aos números e partidas, o que é o mínimo que se pode fazer. Refiro-me à ausência de análises sobre o desempenho do alvinegro praiano nas mesas redondas marqueteiras. Será que o torcedor santista estará destinado ao martírio de ouvir Marcelinho Carioca e Muller, nada convicentes e com cara de quem comeu e não gostou, apenas repetirem que "o Luxemburgo é, realmente, um grande técnico"? Aliás, quem encucou em acreditar que os dois são comentaristas? A Bandeirantes já teve dias melhores .

Só o Galvão acredita
Alguém ainda acredita que a Fórmula 1 é esporte? Me fizeram acreditar nisso quando o Senna chorava no pódio. Tá bom, alguns dirão que a modalidade é mais do que um laboratório tecnológico. Mas, poxa vida, porque as corridas do Senna e do Prost tinham cara de corrida e as de hoje nem isso têm? Acho que eu era muito criança e acreditava em qualquer coisa.

999 de cabeça pra baixo é 666
Há uma enquete no site da ESPN assim: "O que Romário tem que fazer para chegar ao milésimo gol?". Por enquanto, a resposta vencedora é na qual votei: "Ficar com os 999 gols mesmo". Enquanto isso, o Paulo Henrique Amorim, que eu nem sabia que era vascaíno, afirmou ter tido cãimbras antes do Romário e desistiu de torcer pelo Vasco.

Palmeiras ao vento
O Palmeiras ganhou sem o Edmundo, não se classificou e vai esperar pelo Brasileirão. Mas, parece que a Mancha Verde fez uma grande faixa com a inscrição "Primeiro Campeão Mundial", porque é bom comemorar alguma coisa nesta vida, oras!