Idas e vindas da rua santista que brindou a glória cafeeira e suportou a decadência nos anos 80 só para cair no samba nas noites do século 21
Os “pastéis inconfundíveis do seu Shiro”, a mendiga Maria Sapa e o rádio-transmissor do Zé Macaco são algumas lembranças que José Fonseca Neto, 65, e Fernanda Fonseca, 76, guardam da Rua XV de Novembro. Em Santos, o casal trabalhou de 1955 a 1976 no extinto Banco de Crédito Real de Minas Gerais, durante a “época romântica da rua”, como José faz questão de lembrar.
A XV de Novembro não era XV nos primórdios. No século 16, com os patrícios loucos para ligar o porto à entrada da vila, ela nasceu Rua Direita, apesar do desvio forçado por um mangue. Desvio feito, a Rua Direita nasceu assim: torta. Quando a Monarquia foi às favas tornou-se XV de Novembro e se aprontou para brilhar.
No início do século 20, mulher não andava pela XV de Novembro e “a presença de uma era motivo de atenção e assobios”, segundo José. Na calçada dos bancos, corretoras e exportadoras de café, transitavam os homens de negócios. Naqueles anos os cortiços foram ao chão e os barões do café reinaram absolutos quando, na esquina da XV com a Rua Frei Gaspar, inaugurou-se a Bolsa do Café, em sete de setembro de 1922.
A Bolsa do Café, criada para organizar o mercado cafeeiro, é um palácio neoclássico, de recalques barrocos e lembranças da belle époque brasileira. Atual ponto turístico de Santos, ela abriga o Museu do Café, com o salão do pregão e os vitrais e óleos de Benedito Calixto, testemunhas do desespero dos cafeicultores em 1929 com o crack da Bolsa de Nova York. “Deve ter sido uma loucura aqui”, imagina o monitor do museu Wanderley Andrade.
Desde 1998, a XV reúne música e chope no seu happy hour, dedicado aos trabalhadores dos escritórios e ao público em geral. Em 19 de janeiro, o Museu do Café foi cenário para os Falsos Baianos, a dupla santista Conrado Pouza e Wylmar Santos. Quem lá esteve ouviu de tudo, de João Bosco a Carlinhos Brown, na segunda apresentação promovida pela Prefeitura de Santos, empenhada na revitalização do Centro Histórico. Para aplaudir o projeto “Música na XV”, até o prefeito João Paulo Papa conferiu a MPB de Conrado e Wylmar. “Estão enfatizando a veia cultural do Centro porque a cidade carece disso à noite”, reflete Conrado.
O pioneiro das noites da XV foi André Luiz Losada, com sua cafeteria e bar Largo do Café, há 11 anos diante da Bolsa. Sem saudades, André lembra de 1995, quando pela XV perambulavam os mais comuns tipos das zonas portuárias: viciados e prostitutas. “Era uma área degradada e perigosa à noite”. E completa: “o importante é o santista acreditar na XV”.
Foi acreditando que o sambista santista Luiz Américo tirou dinheiro do bolso e abriu a Typographia Brasil, um galpão bem arranjado, ornamentado com bandeiras de escolas de samba e lotado na noite de 25 de janeiro para ouvir o partido alto do carioca Almir Guineto. “A primeira tipografia do País foi a Brasil, aqui na XV, que agora é a rua do samba”, garante Américo. Mas, nem tudo é samba depois que Wanderlei Luxemburgo abriu o restaurante-bar Império Cubano, um espaço dançante, com drinks tropicais e ritmos latinos na vitrola.
E o samba desaperece de dia. Quando a XV amanhece, iniciam suas atividades os escritórios do Luigi Bozzo e Nilo Branco, a Secretaria da Fazenda, o World Trade Center e a Câmara Municipal. Além da Bolsa de Mercadorias e Futuros, vizinha do Bar Retrô, falecido antes das noites de samba e salsa da santista mais ilustre e torta. Como disse José, “são coisas da XV”.
Os “pastéis inconfundíveis do seu Shiro”, a mendiga Maria Sapa e o rádio-transmissor do Zé Macaco são algumas lembranças que José Fonseca Neto, 65, e Fernanda Fonseca, 76, guardam da Rua XV de Novembro. Em Santos, o casal trabalhou de 1955 a 1976 no extinto Banco de Crédito Real de Minas Gerais, durante a “época romântica da rua”, como José faz questão de lembrar.
A XV de Novembro não era XV nos primórdios. No século 16, com os patrícios loucos para ligar o porto à entrada da vila, ela nasceu Rua Direita, apesar do desvio forçado por um mangue. Desvio feito, a Rua Direita nasceu assim: torta. Quando a Monarquia foi às favas tornou-se XV de Novembro e se aprontou para brilhar.
No início do século 20, mulher não andava pela XV de Novembro e “a presença de uma era motivo de atenção e assobios”, segundo José. Na calçada dos bancos, corretoras e exportadoras de café, transitavam os homens de negócios. Naqueles anos os cortiços foram ao chão e os barões do café reinaram absolutos quando, na esquina da XV com a Rua Frei Gaspar, inaugurou-se a Bolsa do Café, em sete de setembro de 1922.
A Bolsa do Café, criada para organizar o mercado cafeeiro, é um palácio neoclássico, de recalques barrocos e lembranças da belle époque brasileira. Atual ponto turístico de Santos, ela abriga o Museu do Café, com o salão do pregão e os vitrais e óleos de Benedito Calixto, testemunhas do desespero dos cafeicultores em 1929 com o crack da Bolsa de Nova York. “Deve ter sido uma loucura aqui”, imagina o monitor do museu Wanderley Andrade.
Desde 1998, a XV reúne música e chope no seu happy hour, dedicado aos trabalhadores dos escritórios e ao público em geral. Em 19 de janeiro, o Museu do Café foi cenário para os Falsos Baianos, a dupla santista Conrado Pouza e Wylmar Santos. Quem lá esteve ouviu de tudo, de João Bosco a Carlinhos Brown, na segunda apresentação promovida pela Prefeitura de Santos, empenhada na revitalização do Centro Histórico. Para aplaudir o projeto “Música na XV”, até o prefeito João Paulo Papa conferiu a MPB de Conrado e Wylmar. “Estão enfatizando a veia cultural do Centro porque a cidade carece disso à noite”, reflete Conrado.
O pioneiro das noites da XV foi André Luiz Losada, com sua cafeteria e bar Largo do Café, há 11 anos diante da Bolsa. Sem saudades, André lembra de 1995, quando pela XV perambulavam os mais comuns tipos das zonas portuárias: viciados e prostitutas. “Era uma área degradada e perigosa à noite”. E completa: “o importante é o santista acreditar na XV”.
Foi acreditando que o sambista santista Luiz Américo tirou dinheiro do bolso e abriu a Typographia Brasil, um galpão bem arranjado, ornamentado com bandeiras de escolas de samba e lotado na noite de 25 de janeiro para ouvir o partido alto do carioca Almir Guineto. “A primeira tipografia do País foi a Brasil, aqui na XV, que agora é a rua do samba”, garante Américo. Mas, nem tudo é samba depois que Wanderlei Luxemburgo abriu o restaurante-bar Império Cubano, um espaço dançante, com drinks tropicais e ritmos latinos na vitrola.
E o samba desaperece de dia. Quando a XV amanhece, iniciam suas atividades os escritórios do Luigi Bozzo e Nilo Branco, a Secretaria da Fazenda, o World Trade Center e a Câmara Municipal. Além da Bolsa de Mercadorias e Futuros, vizinha do Bar Retrô, falecido antes das noites de samba e salsa da santista mais ilustre e torta. Como disse José, “são coisas da XV”.
A XV no início do século XX, com engraxate trabalhando, à direita:
Foto: Cartilha da História de Santos, de Olao Rodrigues, 1980, Gráfica da Prodesan, Santos/SP