Novo disco do Los Hermanos tenta ser simples mas é de uma beleza cheia de personalidade
Não somente a barba dos hermanos cresceu. A grata surpresa do quarto álbum do quarteto carioca Los Hermanos parece simples até no nome. Parece apenas. "4", assim, numeral mesmo, é o novo disco do grupo. Após "Ventura", terceiro disco da banda, era inegável a grande expectativa de todos por novas músicas que consolidassem a identidade lançada por esses rapazes. Isto, é claro, após a superação da imagem de banda de uma música só - a já tão distante Anna Julia. Com "4", fica evidente que o sucesso alcançado após "Ventura" não foi acidental e que a banda é mais MPB do que nunca.
O novo trabalho é basicamente equilibrado e mais, mais de tudo. Equilibrado porque nesta nova jornada parece que os hermanos encontraram um nível ideal, em que os arranjos, as letras e as linhas melódicas se harmonizam, se completam. Uma coisa à serviço da outra. Nos álbuns anteriores havia certo desnível - intencional talvez, quem sabe - entre arranjos e letras. Em "O Bloco do Eu Sozinho", por exemplo, os metais falavam bem alto e as letras ainda tinham vestígio de certo grito até carnavalesco, resquício do primeiro álbum, "Los Hermanos". Em "Ventura", por sua vez, o quarteto preferiu dar mais espaço para as letras, ponto forte do trabalho. Já em "4", tudo parece se relacionar e se comunicar em delicioso equilíbrio.
E "4", como foi dito, é mais porque é realmente mais. Mais existencial, mais depressivo em muitas faixas e mais Los Hermanos. Novamente com a produção de Kassin, "4" traz 12 canções. Menor número entre os quatro álbuns da banda até agora. São 7 de Marcelo Camelo e 5 de Rodrigo Amarante. Muitas delas com arranjos de sutil beleza, como é o caso de "Dois Barcos" - música de Camelo que abre o disco - que conta com clarinetes, trompas e fagotes. Ponto alto também é a singela e filosófica "Os pássaros", com aquela voz arrastada de sempre de Amarante. Nesta canção se faz presente o sintetizador de Bruno Medina, semelhante ao que acontece com outras faixas.
A ausência aqui é apenas de uma música comercialmente forte como aconteceu com "Cara Estranho" em "Ventura". O novo álbum também terá tiragens limitadas em vinil e "O Vento", cantada por Amarante, como música de trabalho. Uma canção bem gostosa, também com sons do sintetizador de Medina e com a voz do Amarante naquela cadência já vista na antiga "Um par". Contudo, fica evidente que, se depender dos fãs que sempre lotam os shows da banda pelo país, "O Vento" não será a única na ponta da língua do público. Já "Horizonte Distante" parece ser a mais fraca deste "4".
No mais, o disco é singelo e carregado de uma MPB cada vez mais contemplativa, evidente na linda "Sapato Novo". "4" é bom para dançar coladinho - "Morena" e "Paquetá" para isso - mas não menos ideal para quem está só se perder na melodia e no compasso de Camelo, como acontece em "Fez-se mar" e nas reflexões e nos gritos de Amarante, caso de "Condicional". É outro álbum para ser ouvido mais de uma vez sem o desgosto de ficar enjoado. Ouvir e assimilar os diversos detalhes melódicos escondidos e simples apenas numa primeira audição.
Um dos únicos momentos de explosão desta vez é num trecho de "É de lágrima", última faixa do disco, que conta com uma passagem gritada de um rock quase psicodélico, como num último grito, feito pequeno tchau para o passado tão distante de uma banda iniciante. Tudo para fechar com chave de ouro essa jóia singela, bela e triste que é "4".