Ah, a Lei Antifumo... Quem é de São Paulo já deve ter visto o Dr. Dráuzio Varela na televisão, dizendo que a lei é uma boa oportunidade para as pessoas pararem de fumar. Como inveterado que já foi, ele deveria saber que isso só pode ser piada para provocar ainda mais a ira dos pobres fumantes despejados no olho da rua.
Antes que me crucifiquem, saibam que concordo com a medida. É muito difícil esperar que as pessoas tenham noções avançadas de educação a ponto de evitarem a fumaça em ambientes fechados e coletivos, sem ventilação e escapatória para quem não se arrisca a dar bafuradas e entupir os pulmões. Eu, como fumante, já conheço meu tenebroso destino: enclausurado nos banheiros. Ou na rua. Eu gosto da rua, não tenho problemas com essa nêga.
Se bem que alguns estabelecimentos já apontam alternativas. Na sexta-feira, ingressei nas primeiras horas do fantástico mundo do ar limpinho ao som de samba rock, no Bar Camará. Um mezanino à céu aberto era o refúgio dos fumantes. Havia 2 bombeiros na escada. Situação inusitadíssima. Se eu descesse com cigarro aceso eles acionariam um extintor?
Até segunda-feira, 50 locais já tinham tomado chicote na mulera.
Mas nada é mais pitoresco nessa jornada contra o tabaco do que o logo da lei. Eu não sei quem é, mas o marqueteiro criador dessa imagem só pode ser um fumante muito P*!# com as manias de bom ar do Serra.
10 agosto 2009
Gripe social
Senti de perto os efeitos menos colaterais da Gripe A na semana passada. No metrô.
Na estação Paraíso, onde todos fazem baldeação, uma mulher muito apática se escorava no ombro do seu namorado, marido, amigo, algo assim. Ao entrar no vagão, sentaram-se perto da janela – ela com orelhas profundas, cara de dor, fraqueza e a máscara cirúrgica.
Na época da Virada Cultural, há três meses, vi muita gente com essa máscara na rua, no Largo do Arouche. Era um tanto ridículo a pivetada mascarada e cantando Wando. Parecia fantasia coletiva que todos deveriam ter combinado pela internet ou ter tido a mesma magnânima ideia. Há três meses, a gripe era coisa do México.
Mas, no metrô era coisa séria. Tanto que a mulher entrou sem ser percebida, mas, bastou passar duas estações para as pessoas terem todo o tempo do mundo para tirar os olhos do vazio e perceber a mascarada doente.
As máscaras devem ser usadas somente por quem está infectado. E isso, hoje, só não sabe quem não quer.
Por isso, ou porque pouco desejamos uma morte tão estúpida, as pessoas se afastaram, vociferavam olhares de reprovação. “Como pode essa mulher com a tal gripe aqui, justo no metrô onde estou?”. Nos olhares parecia que nada poderia explicar o fato da mulher não ter um carro para se deslocar ao hospital. Aos poucos, os assentos mais próximos ficaram desocupados. As pessoas se recolhiam.
Imaginei uma ficção, o mundo em histeria e tomado pela peste. Pouca coisa mudaria. Todos ainda estariam sobrevivendo no eterno isolar-se. Com gripe ou sem gripe, você também já deve ter visto e feito algo assim.
Na estação Paraíso, onde todos fazem baldeação, uma mulher muito apática se escorava no ombro do seu namorado, marido, amigo, algo assim. Ao entrar no vagão, sentaram-se perto da janela – ela com orelhas profundas, cara de dor, fraqueza e a máscara cirúrgica.
Na época da Virada Cultural, há três meses, vi muita gente com essa máscara na rua, no Largo do Arouche. Era um tanto ridículo a pivetada mascarada e cantando Wando. Parecia fantasia coletiva que todos deveriam ter combinado pela internet ou ter tido a mesma magnânima ideia. Há três meses, a gripe era coisa do México.
Mas, no metrô era coisa séria. Tanto que a mulher entrou sem ser percebida, mas, bastou passar duas estações para as pessoas terem todo o tempo do mundo para tirar os olhos do vazio e perceber a mascarada doente.
As máscaras devem ser usadas somente por quem está infectado. E isso, hoje, só não sabe quem não quer.
Por isso, ou porque pouco desejamos uma morte tão estúpida, as pessoas se afastaram, vociferavam olhares de reprovação. “Como pode essa mulher com a tal gripe aqui, justo no metrô onde estou?”. Nos olhares parecia que nada poderia explicar o fato da mulher não ter um carro para se deslocar ao hospital. Aos poucos, os assentos mais próximos ficaram desocupados. As pessoas se recolhiam.
Imaginei uma ficção, o mundo em histeria e tomado pela peste. Pouca coisa mudaria. Todos ainda estariam sobrevivendo no eterno isolar-se. Com gripe ou sem gripe, você também já deve ter visto e feito algo assim.
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