08 maio 2009

Por que Oasis?


Achava engraçado o jeito de andar de Liam Gallagher. Uma amiga mais experimentada no rock’n roll reconhecia nas mãos cruzadas para trás a marca particular e necessária a todo front man do bom rock. O ano era 96 ou 97. Os entendidos em música falavam de um tal britpop para denominar o som da banda que estreou para preencher a lacuna deixada por Cobain e todos da onda grunge. Perto de Nirvana o quinteto de Manchester tinha um repertório de músicas compridas e cheias de solos elaborados. Quando Be Here Now caiu em minhas mãos, a voz de Liam apenas começava a arranhar e deixar para trás o timbre adolescente da estreia em Definitely Maybe. Não demorou muito para eu admitir maior simpatia pela cantoria do irmão-compositor, Noel Gallagher. Apesar da “descoberta” tardia, o Oasis já era idolatrado em boa parte do mundo; na Inglaterra Wonderwall e Don’t Look Back in Anger eram entoados como hinos britânicos e a mídia especializada, ainda sem o alcance da internet, se preocupava em compará-los com os Beatles. Quando o assunto cessava, era hora de repercutir alguma rixa entre os irmãos ou polemizar as declarações nada modestas dos chapados Gallagher. Não necessariamente nessa ordem. Todo álbum novo recebeu o mesmo tratamento. É assim até hoje.

Existe alguma combinação formada por idade, circunstância e uma boa dose de estupidez sincera que nos leva a viver semanas, meses e até anos mágicos em determinada etapa da vida. Para mim, começou a acontecer por volta de 3 anos após cantar Stand By Me pela primeira vez. Ao lado de quatro amigos (com a mesma combinação de inflamáveis motivos) embarquei nas primeiras noites com sabor de cerveja e cheiro de cigarro, de bar em bar, ou do bar para algum esconderijo alternativo e hype (apesar de ninguém saber o que era ser hype na época). Não havia desculpa melhor para se criar naquele tempo. Liam já cantava há uns 5 anos: “I was looking for some action but all I found was cigarettes and alcohol.” Foram as primeiras noites com o carro dos amigos. A cidade não era Manchester, era Fortaleza, mas o calor e a brisa noturna não nos impediam de formar um coro a 100 km/h para gritar “you and I are gonna live forever” mesmo sem ser ouvido. As primeiras transas também me lembram Oasis. Ou Oasis me fazem lembrar delas. No vídeo ou no aparelho de som certamente rolavam Gas Panic e Supersonic. Não, nunca fui um fanático. Como Noel diz, “please don't put your life in the hands of a rock'n roll band who'll throw it all away.”



Sem querer polemizar, como ainda insistem os jornalistas de música sem inspiração, Oasis foi o meu Beatles. Se melhor ou não, parecido ou cópia, foi o que me coube como trilha sonora nos tais momentos mágicos. As composições de Noel cairiam feito luva nas noites sem rumo. Naqueles anos ou meses, nada mais provável e recomendado do que querer ser uma estrela do rock por uma noite, nem que fosse apenas no coro soluçado e infantil de uma canção que começa com “I live my life in the city/there's no easy way out/the day's moving just too fast for me.” O miolo da noite reservaria viagens temperadas com Champagne Supernova e Magic Pie, tudo para acordar do sábado de frente para o mar, renascido, azedo, sem conversas protocolares e no embalo de Sunday Morning Call. Oasis nos esperava na próxima parada, uma semana depois, para completar o cenário da noite, sempre ela.

Todos se espalharam pelo mundo, mas nesta semana conversei com um amigo desse grupo. Ele me desejou um “bom show”. Há mais coisas por trás disso, mas somente nós, as crianças cheias de motivos inflamáveis, saberemos do que se tratam no final. Como em todo MP3 e oportunidade de escutar Liam cada vez mais rouco nos últimos anos, vou berrar bem alto no sábado, na minha segunda oportunidade de ver Oasis ao vivo. Não tem nada a ver com aquela adolescente vibração na frente da tevê, vendo o DVD do antológico show dos Gallagher em Wembley. Mas na mente essa cena certamente estará viva, como todas as outras que eles patrocinaram.
Porque não adianta querer discutir o ar blasé, a personalidade poser e as declarações marqueteiras do mainstream. Oasis, apesar de já soar antigo, pode até virar um Eagles que toca para tiozões daqui a algum tempo. Noel já disse que a banda acaba quando Liam ficar careca (o que já está com meio caminho andado). Nada importa. Há poder suficiente nas guitarras em alta e em versos como “talking to the songbird yesterday/flew me to a past not far away/she's a little pilot in my mind/singing songs of love to pass the time.”
Na pista e diante do palco, eles serão desculpas mais do que recomendadas para acionar algumas paisagens, gostos e cheiros que ficaram gravadas para sempre em mim como o registro da mais jovem passagem da minha juventude. Vez ou outra, Liam me lembra: “hey! stay young and invincible”.

7 comentários:

Jorge Tarik disse...

Engraçado como mesmo tendo aprendido a gostar de Oasis depois de universitário, sempre quando os ouço lembro daquela juventude. Acho que é um tipo de retorno àquela inocência 'mágica' como tu definiu. Belo texto, traduziu as muitas e atordoadas emoções de outrora. Nostálgico, amigo, demais!

Abração grande, Bocas!

Tentarei vir aqui com frequência, a qualidade é boa.

Juliana Sayuri disse...

simplesmente adorei este post. dá até vonta de fazer um crtl c + crtl v =)

Gabriel Ruiz disse...

Realmente o Oasis é uma banda que me lembra tempos de juventude. E quem sabe, alguma coisa dos tempos de hoje. Um deles, porque toquei uma única remota vez num Oasis cover as 5 da manhã, junto com o Suzano e o Gabriel Leite e ainda o Juca, na república central.

Mas o rock britpop do Oasis já não alcança tanta força como antes, porque os (vários) hinos da banda já foram feitos e agora resta tocá-los ao vivo, claro, pra alegria geral. Se eu fosse ao show, não ia querer ouvir coisas novas, mas algumas dessas que vc citou e outras como "rock n roll star". Porque hoje, por exemplo, falta-me vontade de baixar o que há de novo sobre a banda.

Outra. A mídia adora exageros musicais, ás vezes, bem apressadinha, quando colocou o Oasis como os novos ícones verdadeiros do rock. O tempo porém, sempre ele, provou que estava longe de ser um nirvana, até porque ninguém morreu. Mas sem a força visceral e bem menos juvenil-rebelde do que o nirvana.

Mas é bom demais recuperar esses cheiros e gostos de outrora, seu texto é extremamente sincero, ao reconhecer a identificação com alguma etapa da vida, gostei disso.

E os meus Beatles, foram os beatles mesmo. (rsrs)

Bela postagem Bruno, o texto é extremamente sincero, sem tentar querer dar holofotes demais a banda. Mas não se esqueça de dar continuidade a respeito do que vc verá/ouvirá na noite de hoje, caso contrário, estará perdendo uma oportunidade de outra bela postagem, com gostos e cheiros.

te saludo!
grande abraço meu caro.

Alberto disse...

Como toda criança de classe média, eu tive dois sonhos:

- ser jogador de futebol (até uns 12, 13 anos);
- ser "rock'n'roll star" (dos 14 aos 17).

No segundo item, o Oasis era a principal influência. Com certeza, também os "meus Beatles".

Talvez não tenham embalado os momentos mais importantes da minha vida (exceto por uma ou outra canção), mas fizeram parte do meu ingênuo sonho adolescente. E por isso, mesmo tendo consciência das limitações da banda, ela sempre será presente em minha vida. Exemplo disso, como bem lembrou o Ruiz, foi a participação na banda "Zooasis".

E foi muito bom revê-lo no show.

Abraço

Fernanda disse...

Interessante como algumas músicas e bandas em especial se encaixam perfeitamente com fases da nossa vida. Às vezes parecem até que foram feitas sob encomenda, não é mesmo?

Linda a forma como vc descreveu a importância do Oasis na sua. Muitos de nós compartilhamos gostos desse tipo, mas sem dúvida o Oasis pra vc é diferente do Oasis pra mim, e diferente do Oasis pra qualquer outra pessoa. São singulares e mágicas as marcas que deixam em cada um de nós. =)

Adorei o post! ;)
Bjos e saudades!

Ricardo Sottero disse...

Até acredito em toda essa qualidade atribuída ao Oasis. Afinal, fã é fã e gosto é igual àquela coisa batida né!! Mas posso dizer que nunca, mas nunca mesmo gostei destes caras. Tive banda por 7 anos e nunca admiti tocar o som deles (e nem meus companheiros de música). Na minha cidade interiorana paulista, praticamente não existiam bêbados gritando "Toca Oasis". Quando muito, o pessoal conhecia os hits mais melosos. Sei lá, a voz arrastada dele me passa a impressão de desdém, de uma pretensão além do suportável. Os polêmicos depoimentos que vez ou outra sai na mídia após um algum álbum novo lançado, para mim não passam de necessidade de contestação. Não gosto deles, e nunca vou gostar. Para mim eles são maníacos depressivos que querem deprimir os outros por meio de suas músicas. Mas o que é minha opinião?
Abraços brunão
E respeito seu gosto musical El Justiciero!!!

Tatiana Aoki disse...

Entendo o que é Oasis para você. Porque eu sempre tive essa idolatria, principalmente em relação ao Pink Floyd.

Hoje considero isso meio babaca (desculpe o termo forte), porque é uma nostalgia e uma mistura de sentimento de "eu fui" com felicidade.

Mas eu queria ter ido ao show dos caras. Ou não, porque eu detesto chuva...