A “cidade dos reis” e capital do Peru não está acostumada às chuvas, apesar do característico céu nublado. Contrariando a média de três milímetros para outubro, uma leve garoa molhava Lima na manhã do dia 21. O chuvisco não exigia guarda-chuvas. Na paisagem do mirante da praia de Miraflores, a vida continuava com cara de cartão postal e, pelas ruas centrais, as pessoas andavam à vontade, apesar de surpreendidas pela água. Nos cruzamentos mais disputados, onde a negociação da passagem se dá com festa de buzinas e má sinalização, a colisão dos amassados e remendados carros dos anos 80 parece inevitável.
Nas obras que se avolumam na cidade, operários se concentram nos trabalhos em asfaltos e viadutos. Lima abre espaços, em esquinas de bairros como San Isidro, para concentrar fast foods. Parece piada: a cozinha peruana, com seus pesacados e influências criollas, é admirada em todo o mundo. Nos três dias na cidade optei pelo típico, como ceviche e pisco.
Pelas ruas, mesmo no dia da chuva, a construção civil avançava. Até parecia alheia ao caos no trânsito e aos recentes escândalos com grampos do governo federal.
A rápida passagem pelo Peru reservou bons momentos e alegrias, excetuando a mística e inusitada Inca Kola, o refrigerante que, nacionalismos à parte, lembra mais um chiclete líquido.
Na madrugadada do dia 22, o Tequila Rock da avenida La Marina fervia. Uma música de difícil explicação. Nada a ver com a tradicional marinera peruana. No ambiente cheio de vídeos um tanto calientes, o ritmo parecia misturar funk carioca com a tecnera da cúmbia - aquela dança do Tévez, lembram? Mais difícil era quebrar o quadril para dançar como todos peruanos que engatavam em pares nada comportados. Foi divertido. Do palco, dois locutores comentaristas (???) nos acharam: "a los estranjeros!".
No dia seguinte, entre outras coisas, o corpo moído depois das Cusqueñas bebidas na noite anterior. Por razões misteriosas, nosso grupo encontrou ânimo para jogar futebol com os peruanos, num gramado da pobre Cañete, 190 km ao sul de Lima. Niños e niñas gritavam por "avante brasileños, vá Ronaldinho!". Nós, os sedentários e barrigudos, tínhamos o esforço estampado na cara, tudo para corresponder à megalomaníaca expectativa da população infantil do local.
Resultado final: Peru 1 x 0 Brasil. Desculpas às crianças de Cañete, fica para a próxima.