10 março 2007

A swinging London de Llosa

Não sou crítico literário e não posso dizer mais que o óbvio da leitura de Travessuras da menina má, de Mario Vargas Llosa. O peruano é excelente e sua obra deve ser pretexto de orgulho para os latino-americanos. Mesmo os de araque - os brasileiros - como eu.
Apesar de não ser o cerne da obra, Llosa narra a Londres dos anos 60, o que mais me emocionou em Menina má. Dá uma olhada:



"Na segunda metade dos anos 60, Londres substituiu Paris como a cidade das modas que, partindo da Europa, se espalhavam pelo mundo. A música substituiu os livros e as idéias como centro de atração para os jovens, principalmente a partir dos Beatles, mas também de Cliff Richard. Shadows, Rolling Stones com Mick Jagger e outras bandas e cantores ingleses, e dos hippies e a revolução psicodélica dos flower children. Assim como antes iam fazer a revolução em Paris, muitos latino-americanos emigraram para Londres e se alistaram nas hostes da cannabis, da música pop e da vida promíscua. Carnaby Street substituiu Saint Germain como umbigo do mundo. Em Londres nasceram a minissaia, os cabelos compridos e as roupas extravagantes que consagraram os musicais Hair e Jesus Christ Superstar, a popularização das drogas, a começar pela maconha indo até o ácido lisérgico, a fascinação pelo espiritualismo hindu, o budismo, a prática do amor livre, a saída do armário dos homossexuais e as campanhas de orgulho gay, assim como uma rejeição em bloco do establishment burguês, não em nome da revolução socialista, à qual os hippies eram indiferentes, mas sim de um pacifismo hedonista e anárquico, matizado pelo amor à natureza a aos animais e por uma renegação da moral tradicional. Os pontos de referência para os jovens rebeldes não eram mais os debates em La Mutualité, o Nouveau Roman, nem refinados compositores e intérpretes como Leo Ferré ou Georges Brassens e os cinemas de arte parisienses, e sim Trafalgar Square e os parques onde, liderados por Vanessa Redgrave e Tariq Ali, faziam manifestações contra a guerra do Vietnã em meio a shows multitudinários dos grandes ídolos e baforadas de erva colombiana, e os pubs e discotecas eram os símbolos da nova cultura que mantinha milhões de jovens de ambos os sexos magnetizados por Londres. Aqueles anos foram, na Inglaterra, de esplendor teatral, e a montagem da peça Marat-Sade, de Peter Weiss, dirigida em 1964 por Peter Brook, até então conhecido principalmente por suas revolucionárias encenações de Shakespeare, foi um acontecimento em toda a Europa. Nunca vi no palco nada que se gravasse com tanta força na minha memória."

Agora me diz como não admira-lo e não invejar essa Londres aí em que ele tropeçou? Hein?

Um comentário:

m. disse...

assim que o joelzinho me permitir, vou ler esse livro. minha irmã leu e adorou!

beijso, querido
saudades de vc, mesmo estudando na mesma sala
;****