"Tengo miedo del encuentro con el pasado que vuelve a enfrentarse con mi vida...Tengo miedo de las noches que pobladas de recuerdos encadenan mi soñar..."
Quando a voz de Estrella Morente rasga no restaurante em que Raimunda (Penélope Cruz) reconstruiu, dublando a própria performance de Raimunda, toda saudosa da canção e da juventude, eu gelei na poltrona do cinema. Queria ter dado um abraço em Almodóvar naquele mesmo instante e ter dito: Se quiser terminar o filme aqui, logo assim, com a Carmen Maura chorando sofrido no banco do carro, pode acabar que já tá lindo". Mas o filme não acabou, e eu tive que me esguelar pra não chorar até o definitivo fechar da porta.
O filme é lindo. Sinceramente e humildemente lindo. Não sei, mas é difícil falar dele. Já me disseram que eu tenho uma alma de mulher e que, por isso, Pedro Almodóvar e eu nos entendíamos - duas almas femininas encarnadas em homens. É muita presunção. Não sei.
Sei apenas que Volver toca o coração - com as canções, as lágrimas, os segredos de três gerações de mulheres e com o olhar da Penélope, essa musa que aqui anda em chamas, conseguindo ser forte, mesmo frágil. Toca a memória também - com a lembança dos mortos que não morrem, com a deseperança esperançosa da vida, com o dia-a-dia tão monótono que nos desafia a enxergar uma beleza escondida nas amarguras, nos remorsos, no passado esquecido através da vida presente.
Alguns irão chorar com Volver, outros rirão. Haverá os indiferentes, é verdade.
Mas duvido, mesmo, que após cada tomada anti-horária de cena (que chega até a debochar do nosso olhar acostumado com uma massa de filmes com ações da esquerda para a direita), que depois das cores vibrantes de sempre, das mulheres, das canções e da Espanha tão recôndita de Almodóvar, não haverá um coro interno dentro de nós dizendo: "esse filme é mais que filme". Um dos poucos que nos atreveríamos a chamar de película, em pleno Brasil.
Foi isso que achei de Volver do Almodóvar. Uma sucessão de sentimentos que remontam os medos, la soledad, as ilusões perdidas, as saudades rememoráveis numa canção, as dores caladas, os encontros impossíveis, diante do tempo que corre nos trilhos da fugacidade da vida. Tudo num intenso vai-vem de lembranças que dóem, mesmo quando roubam os sorrisos das suas mulheres tão bravas.
E, é claro, na leitura do coração dessas mulheres, que habitam aquele miserável lugarejo hispânico, onde os choros e risos tanto machucam, a ponto de nos remeter aos nossos próprios retornos, nossas varias vueltas. O nosso cotidiano "volver".
2 comentários:
volveeeeeeeeeeeerrrrrrrrrrrr
meu primo ,obrigado pela expressão torrencial,referencia de sintonia que nao cabe hora nem lugar...quando em terras costeiras embriagados dessa mundanices que nos fazem homens ,estaremos pois ,depois de tudo,assim espero,trocando as pontes que nos ligam a tantos outros e dpois de um tempo,sendo a propia ponte qu (e)leva e desloca o ser nesta era.
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