Não conheço Nick, que já se definiu como o carioca mais paulistano do mundo. Concordo com seu ponto de vista, sobretudo porque não há nada mais imbecil nessas discussões do que esquecer algo óbvio: o Brasil (e o suor do trabalho dos brasileiros) está muito além dos limites das duas capitais.
Fico imaginando se outras partes do mundo também perdem tempo com antológicas picuinhas. E sempre surge o exemplo das megalópoles, como no Japão, que usaram o tamanho e o poder de várias cidades para construir algo ainda maior. Nessas horas, o trem-bala pode até parecer um elemento unificador e apaziguador desse embate tolo que rola por aqui.
Tem gente que sempre vai apontar as razões históricas do conflito e outros que vão achar nele um elemento importante do folclore nacional – a ironia que não mata, como aquela do português burro que sempre pisa na bola da inteligência. Na véspera do carnaval deste ano, por exemplo, era notório o número de paulistanos que anunciavam a sua viagem para o Rio e, do outro lado, cariocas que se perguntavam: “o Rio vai ficar cheio de paulistas. Para onde correr?”.
Às vezes dou risada do chiste e a nossa literatura está recheada de menções bem-humoradas (outras nostálgicas) à rivalidade São Paulo-Rio de Janeiro. O Nick Ellis encontrou uma mal-humorada aqui, mas temos bons exemplos por todos os lados. O Marcelo Rubens Paiva foi quem escreveu o melhor texto sobre o assunto, mas jamais vou encontrá-lo de novo.
Bem, é evidente que são duas cidades maravilhosas. Para mim, o Rio está guardado para sempre nas memórias infantis, em passagens familiares e surreais por lugares que enchem os olhos de qualquer mortal. Já São Paulo, esta terra que divido com tantos amigos na mesma toada, é a cidade que escolhi para trabalhar e crescer (não necessariamente nessa ordem) e, nisso, ela é uma mama de seios fartos. O que não significa dizer que no Rio e em qualquer outro lugar não há espaço para isso.
A pergunta é: mas o que é, afinal, ser paulistano ou carioca? Certeza mesmo, só o que vemos: duas cidades grandiosas que abrigam (acredite!) uma gente louca da vida para superar problemas e tristezas coletivas. Acho que ser carioca ou ser paulistano é algo mais do que relativo, tão certo quanto o recorde de calor ou a enchente do ano.
3 comentários:
Li o texto desse André Forastieri que voce linkou, o cara parece que quer ser o novo Diogo Mainardi.
Já voce, meu caro amigo, é o Rubem Fonseca unespiano. E olha que eu nunca li o cara.
É por essas e outras que vivo em Salvador. E nem quero saber de Rio ou Sampa.
De quebra recebo a visita de neopaulistanos ilustres, como o senhor.
Na "maior festa popular do mundo", cariocas e paulistas coexistiram aqui.
E gostaram da hospitalidade local, assim como mineiros, gaúchos e pernambucanos.
Integração é a palavra. E não só na folia.
Para ponderações sobre o carnaval soteropolitano dê uma olhada no meu modesto blog: http//:combustaonuminstante.blogspot.com
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