Matutar por Alzira, jamais. Figurasse nos dramas babosos, o sujeito sem eira a desabar, o Château Margaux reluziria estocado no peito. Não a branca fajuta, gritada sem licença no ouvido. Zumbido danado. Mas, quem mandou? Esse povo é formiga, teima e tropeça pelo Mercado, encontro marcado com o Xixi de Cobra, a escarlate saída na propaganda mole do pardieiro. “Amansa coração de corno infeliz” é como enganam. Se o da vez era Serafim, os veludos da tragédia do Velho Mundo são firulas a cargo de homem pela metade, tipo grã-fino, triste ou risadinha, nunca estalado nas pisadelas da vida. E Serafim era galhudo dito, sem a vergonha chorosa em admitir. Daí o destino ser todos os goles do Xixi de Cobra e a saudade banana de Alzira bandida.
O filho de D. Manteiga, a filha dum poeta de mentira, cresceu na pilha do jornal antigo do pai. Bunda nas manchetes, sentava bamba, imundo. Coceira vinha, espichava para a aula do velho. O último descabido foi “mulher é no cabresto”. Dia seguinte enterrava o sábio e embrulhava o aviso da véspera como do divino. Alzira só veio quando D. Manteiga avizinhou-se do pai na terra fofa, semana depois. O corte na oficina, serviço no “carro de baitola” do prefeito, veio à noite, caidinha, num presságio da perdição que crispou na porta. Assobio largo, tapete para o rebolado, ela girou. Levado no olhar dum cão, Serafim soltou a ferida, lambeu o beiço, deu bote e pelejou para cair no encardido. Denise, penúltimo enfeite da reboladeira, gostara do capô do baitola.
Três dias e ele achou Denise uma sabida. Deu nada. Na cama, lambuzado, batizou-a Alzira. O fuxiqueiro do povo sobrou e sete luas apagadas foi o tempo fora do batente, fincado nos lençóis do sobrado pelancudo. A rala freguesia jogava na mão do basbaque, que corria o arame para a gaiata. Coisa feita. Arruína.
Desavisada, a mulher mendigou por artista na rua porque o último querer da febre de Denise contagiara o mau juízo de Alzira. O chifrudo, mais desavisado, pinçou o enfarte ao invadir o mimo sem pestanejo, o quarto dos fundos só dela. Um ateliê improvisado, com Alzira em pêlo no chão e o prometido rabudo no ensaio do pincel, faziam do retrato do avô, coisa do espólio de D. Manteiga, testemunha. Serafim sangrou os dois. Para apagar a luz, esforçou-se. Ficou cego de tal modo que não viu o avô, metido a Dalí do Cordel nos tempos de baião sem culpa, rolar uma lágrima no retrato.
Reconheceram Serafim no Mercado. Lembrava do cabresto do pai e tropeçava.
Imagem: Oswaldo Goeldi ("Abandono")